CONFÚCIO (Em Construção)
Confúcio, o tipo
mais sistemático desta grande civilização.
1) O Eminente Koung-Fou-Tzeu, isto é, CONFÚCIO, objeto da
profunda Veneração dos Habitantes da GRANDE CIVILIZAÇÃO CHINESA - Apreciação
Abstrata de Confúcio e de sua influência sobre o conjunto da Civilização
Chinesa, durante o Período Imperial.
1.1) Considerações
Gerais sobre a evolução Intelectual da China, e sobre a situação geral, no meio
em que surgiu Confúcio, até 1911.
Nestas duas últimas sessões apreciamos
sumariamente, em primeiro lugar a inteligência fundamental da civilização
chinesa; em seguida a história geral de seu desenvolvimento concreto, de modo
que a situação, anterior a 1911, que este grande Império, fosse determinado e
esclarecido por esta dupla evolução.
Tivemos condição de ver, que o Império
Chinês, constituiu-se gradualmente, segundo uma evolução, cujas leis gerais
expusemos. Nesta teoria filosófica da civilização chinesa, DO LIVRO DE ONDE FOI RETIRADO - http://www.doutrinadahumanidade.com/livros/ao_povo_e_governo_chines_viii.pdf
indicamos sumariamente, o especial papel, do seu mais eminente filósofo, aquele
que estabeleceu, as essenciais bases, segundo as quais, constituiu-se o
elemento modificador da civilização correspondente.
Demonstramos, com efeito,
que dois elementos fundamentais se encontravam nesta evolução: a Família
Imperial, de onde emana o governo monocrático, susceptível de ser substituindo,
quando o exigirem imperiosas necessidades; e uma classe esclarecida, letrada,
que representava ao mesmo tempo um elemento modificador e regulador.
O homem
que estabeleceu as bases da sistemática coordenação, desta classe dos letrados
foi Confúcio.
Pois era necessário
consagrar uma especial apreciação a este filósofo; mas este trabalho será ainda
útil, por outro valor, pois desenvolverá em nós, este justo sentimento de
respeito, que nos permitirá concentrar, neste grande tipo, a representação
concreta desta civilização. É por esta razão, que vamos consagrar a primeira
parte desta sessão, à especial apreciação da obra de Confúcio.
Devemos primeiramente determinar a situação geral, no meio da
qual, surgiu Confúcio.
Veremos assim, sob o grau dos antecedentes que ele agiu;
e como foi o órgão das necessidades fundamentais, de uma situação criada pelo
passado; compreenderemos melhor então enorme poder de sua ação, percebendo
quanto ela era convenientemente adaptada à inteligência da civilização
correspondente. Confúcio foi com efeito, um dos homens, que mais profundamente
influiu sobre o seu meio social. É preciso primeiramente explicar, como os
esforços de Confúcio e de sua Escola, versaram essencialmente sobre a Moral,
sobretudo a Moral Prática, isto é, a Educação dos Sentimentos, maximizando o
Altruísmo e comprimindo o egoísmo; bem como as outras educações ou Instruções;
e sobre trabalhos de erudição ou de sociologia concreta. A civilização chinesa
era e ainda é como já deixamos estabelecido, essencialmente fetíchica; e foi
neste sentido que ela se desenvolveu. Resultou daí, que a China ficou por
muitos anos privada, da instituição social da Abstração. A instituição da
Abstração é uma das maiores criações da Humanidade, e é ela que domina a
evolução mental das populações adiantas cientificamente. Todas as inteligências
mais elevadas tinham realizados os seus trabalhos científicos no Ocidente; cuja
influência experimentou sem que, todavia percebessem, pois somente com Augusto
Comte, que devemos a descoberta, bem como a sistematização deste grande
fenômeno sociológico, por uma distinção dogmática e histórica, entre o abstrato
e o concreto. Porque as influências sociais como as influências cosmológicas
foram experimentadas, muito tempo antes, que as bem dotadas inteligências,
tinham descobertas as leis que regem os fenômenos naturais. O teologismo
estabeleceu a Abstração pela especial representação dos diversos e distintos
fenômenos, por meio dos correspondentes deuses. Por não ter a China o
teologísmo, que provoca espontaneamente o aparecimento da operação de
abstração; fez por isso, não ser possível, este sistema operacional ser
instituído de modo profundo e no seio da Família, de forma espontânea e
natural. Ora, a Abstração, é a condição necessária, para ocorrer as grandes
elaborações científicas, bem como de todo desenvolvimento estético, referente
as artes do belo. Com relação a ciência, é evidente. Não há verdadeira ciência
senão a ciência abstrata. Não é senão, estudando os diversos e distintos
fenômenos, que se pode chegar constatar as suas leis naturais, É assim que se
tinha desenvolvido, no Ocidente, a matemática, a astronomia, a física, a
química, a biologia, a sociologia positiva e a moral positiva. Estas duas
últimas ciências, percebidas por Augusto Comte, complementaram a seqüência
enciclopédica das ciências positivas. Isto é, ciências que possuem
simultaneamente os seguintes sete atributos: reais, úteis, certas, precisas,
orgânicas, relativas e sociais. 133 Desde de então, a China essencialmente
fetíchica, não podia apresentar, o grande movimento científico próprio ao Ocidente,
e nem mesmo nada de análogo ao da Índia, naquela época. O mesmo acontece com
relação, às grandes criações estéticas. A idealização é a condição de uma
eminente e verdadeira arte. A abstração idealiza de um lado pela eliminação de
certas propriedades, e de outro lado, porque permitindo considerar
separadamente, as propriedades ou atributos dos seres; é possível então
conceber, os extremos limites de variação quer para mais, quer para menos. A
China sendo fértil em criações estéticas secundárias, com representações
exatíssimas da realidade, devia permanecer estranha às grandes criações
estéticas, políticas ou plásticas. A China ainda estranha ao teologismo, e por
conseguinte, a instituição da operação de abstração, apresentou um meio social
refratário às puras elaborações científicas, como as grande criações estéticas.
Assim se explica o estranho fenômeno, muitas vezes evidenciado, de uma vasta
população, tendo produzido imensos trabalhos morais e de erudição, e não tenha
jamais, neste grandioso período Imperial, tido a oportunidade de ter criado uma
ciência; bem como possa ter gerado uma arte verdadeiramente, de elevado nível.
Eis pois, uma situação geral, que afasta as grandes inteligências, as naturezas
teóricas, das especulações propriamente abstratas ou das grandes elaborações
estéticas, isto é, das belas artes. É este o primeiro fator geral que dominou a
evolução intelectual desta civilização. Mas a situação social propriamente dita
atua nesta civilização, no mesmo sentido, que a situação intelectual, impelindo
para as especulações morais, e principalmente de moral prática ou educação dos
sentimentos com quase nada de educação científica e educação das artes, fazendo
com que as inteligências teóricas, se afastem dos trabalhos da ciência pura. Já
ficou estabelecido que um dos caracteres fundamentais da civilização chinesa,
era ausência de castas, e por conseqüência, devido a ausência de casta
sacerdotal, ou de classe puramente teórica, que não pode se formar pela
ausência de uma sanção teológica. Resulta daí que a classe rica e mais
esclarecida dedica a sua atividade na Administração, e ao governo propriamente
dito na sociedade.
Segundo esta situação as inteligências puramente teóricas,
são impelidas a dirigir suas atividades mentais, para as especulações morais,
diretamente ligadas, ao governo da sociedade - também sob esta dupla
influencia, os pensadores se tem essencialmente ocupado da Moral Pública;
pode-se notar que a própria natureza da Moral, é perfeitamente adaptada a isso.
A Moral constitui para a classe teórica, a passagem da teoria à prática; é ao
mesmo tempo arte e ciência. Pela sua base, ela atinge as mais elevadas teorias,
porque ela repousa necessariamente sobre o conhecimento da natureza humana, que
finalmente repousa sobre todas as concepções científicas reais; pelo seu
coroamento, tornando-se prática; porque institui o governo da natureza humana.
A Moral é teórica quanto a sua base; prática quanto ao seu
imediato destino. É claro, que sob todos os aspectos, as grandes inteligências,
achavam meio de satisfazer em semelhante estudo, suas verdadeiras aptidões
mentais, procurando realizar, um real destino prático, conforme a influencia do
seu meio social. Resulta pois daí, uma situação fundamental, que preparava e
provocava a Grande Operação de Confúcio; operação que produziu admiráveis
resultados, apesar das imensas perturbações dos Tao-sse, e dos budistas. Esta
construção não foi grandemente eficaz, senão porque se achava precisamente na
verdadeira direção, da evolução da civilização, no meio da qual se produzia;
porque a coordenação de Confúcio é uma coordenação moral e política; e era o
gênero de teoria que impunha aos verdadeiros pensadores, tal atuação.
Assim, o especial estado da China em que apareceu Confúcio,
dava um alto imediato destino à sua elaboração filosófica. No momento que
surgiu Confúcio, presenciamos uma civilização, cujos principais caracteres, já
indicamos, existindo simultaneamente, em vários pequenos reinos, espalhados
principalmente as margens do rio Amarelo, e em algumas localidades adjacentes,
como Chan-toung. A origem comum da civilização, própria à estes pequenos
Estados se manifestavam pela admissão de uma espécie de subordinação, mais
aparente do que real, à dinastia dos Zhou, que continuava em mudanças inevitáveis
a Família; instaladora da civilização chinesa. As lutas militares extremamente
ativas existiam entre estes diversos pequenos reinos. Percebe-se por ali, um
duplo fato: uma real similaridade de civilização, combinada com uma
decomposição política, ou em outros termos, um mesmo Estado de Sociedade,
coexistindo em vários países vizinhos; mais ou menos independentes e
continuamente em lutas.
É claro que uma tal situação devia impelir as grandes
naturezas, a tentarem fazer cessar, uma semelhante desordem, e implantar a
unidade e a ordem entre populações; que tendo hábitos e idéias análogas;
todavia se viam arrastados para contínuas perturbações. Semelhante organização
poderia ser mais ou menos bem efetuada, pois isto dependia da natureza do
órgão, que viesse aparecer para preencher a função; mas desde que houvesse uma
situação que solicitasse semelhante esforço. Foi a esta grande missão, que se
consagrou Confúcio. Ele procurava com efeito, agir sobre os chefes, os
ministros destes diversos governos, em nome de uma doutrina moral, que não foi
outra coisa, mais que a sistematização, mais ou menos abstrata do conjunto dos
antecedentes da civilização chinesa.
Foi este o grande problema, que Confúcio quis resolver e
resolveu, enquanto durou o regime Imperial. Ele procurou em seguida, por uma
prédica ativa da sua doutrina moral e política, persuadirem os chefes, a
fazerem cessar a permanente anarquia, de suas lutas militares, e as desordens
de suas insuficientes administrações interiores; tendia assim fazer prevalecer
cada vez mais, uma civilização pacífica e industrial, em relação aos
antecedentes comuns, destas diversas populações.
Assim, após indicarmos a natureza destas grandes operações,
como a situação às exigia, vamos ver como desempenhou o “órgão”, encarregado de
tal função, pelo conjunto dos destinos sociais da China, daquela época.
APRECIAÇÃO DA OBRA E DA VIDA DE
CONFÚCIO.
O sobrenome do Sábio
era Krong ou Khoung, seus nomes eram Tchong-ni e Tse. Era conhecido normalmente
como Krong Tse. O que significa o Sábio Krong (Khoung).
Confúcio, foi uma latinização, dado no século XVIII, pelos
jesuítas franceses que habitavam Pequim, o chamando de: Krong Fou Tse – “ O
Maestro Krong”.
Nasceu em 551 antes de Cristo, e a história afirma que foi no
dia de Kengtse, na Lua Nascente, no entanto sua família celebrava seu
aniversário, dia 27 da oitava lua. O local, onde nasceu, foi no pequeno reino
de Lou (Lu), que está situada na parte sudoeste da província de Chan-toung
(Shandong).
Sua aldeia natal se chamava “ Tsou-i (O Campo do Angulo),
estava a três lis (~3 Km) ao sudoeste da capital, chamada Lu tchreng; hoje é
Tsiue-li – Bairro dos Miradores; que formava parte da cidade de Ts´iu-feu . No
entanto o local de sua casa está ao lado de seu túmulo, ao norte da cidade,
junto ao riacho Tchu, que é afluente do rio Se. Morreu com 73 anos, em 479 aC.
, isto é, no 16o ano de Ngae Kong de Lu, 41o de Tsingoang dos Tcheu. Seu pai
era governador de Tsou-i. Perdeu o pai muito cedo, e foi educado pela
inteligente direção de sua devotada mãe. Educado com muito cuidado, mostrou
desde a meninice esta combinação de inteligência, veneração e devotamento, que
caracteriza esta sua nobre natureza.
Na idade de 17 anos, aceitou por convite de sua mãe, um
mandarinato subalterno que consistia em inspecionar a renda dos cereais e de
diversos produtos alimentícios. Mostrou nestas modéstias e úteis funções, uma
grande firmeza. E esta constante preocupação com o interesse público, foi que
dirigiu toda a sua existência. Casou-se na idade de 19 anos, e ainda por
convite de sua mãe, e teve num filho, com esta sua primeira esposa, e no ano
seguinte uma filha, Tche-tchang; e logo depois, na idade de 21 anos, obteve na
administração pública, uma elevada função; foi encarregado da inspeção geral
dos campos e dos rebanhos, com os poderes necessários, para operar neste
sentido, todas as reformas que julgasse necessário.
Na idade de 24 anos, no momento de pleno desenvolvimento de
sua carreira administrativa, perdeu a mãe. Conforme aos antigos costumes, mui
negligenciados, mas cuja influencia ela desejava restabelecer e desenvolver;
abandonou todo o emprego público; e consagrou três anos a um retiro que soube
nobremente utilizar.
Foi então que concebeu definitivamente seu grande projeto de
reforma.
Neste fecundo retiro, ele traçou o plano e entregou-se a
profundos estudos, sobre a antigüidade chinesa; e sobre diversas questões de
moral filosófica e de praticas educacionais; bem como as meditações
indispensáveis à lapidação de sua grande missão. Terminada esta grande
dedicação de meditação, completa os seus longos estudos, por diversas viagens,
em grande número de reinos chineses, situados na parte baixa do rio Amarelo;
apreciou por uma atenta observação, os diversos reinos, que desejava converter
à sua doutrina; que não era outra se não a sistematização filosófica das
tradições e das tendências da civilização chinesa.
A partir daí, durante 20 anos, percorre estes pequenos
estados, formando discípulos; consultado pelos reis e ministros, e atuando
continuamente sobre eles, para conduzi-los, a uma direção paternal moral e
pacífica das populações que lhes eram submissas. Pelas pesquisas existentes,
pode-se constatar que a ação de Confúcio estendeu-se exclusivamente à porção da
bacia do rio Amarelo, ao redor do qual se constituiu, e propagou-se
gradualmente em seguida para a população chinesa.
“Do lado norte, não foi além da fronteira do Pe-tchi-li, não
passou o rio Kiang, do lado do meio dia; a província de Chan-toung foi seu
limite do lado do Oriente, e a província do Chen-si foi o que ele viu de mais
longínquo, do lado do Ocidente”. (G. Pauthier – Da China). De volta ao seu
Estado ou reino, ou melhor, sua Pátria, e recebido aos gritos, com danças e
risadas; aceitou o convite do rei de Lu, o Senhor Ngae Kong, que o recebeu em
audiência no mesmo dia; retornando a atividade, entra para a administração; e
foi com a idade de 50 anos promovido, as funções de chefe de magistratura civil
e criminal; mostrando esta combinação de vida pública, e de estudos teóricos de
moral e de história, que devia caracterizar a escola; e que não é no fundo,
senão uma necessária sistematização do elemento modificador da civilização
chinesa.
Mostrou desde o começo, em suas elevadas funções, firme
posição, que constitui sua constante forma de ser; isto é, forte caráter.
Assim, começava por exigir com efeito, a morte do principal funcionário público
da precedente administração, de modo a precipitar sobre o principal culpado, um
indispensável castigo; e provar ao mesmo tempo, sua irrevogável decisão de
impedir, novas prevaricações; trouxe as estas elevadas funções, esta bondade
ativa e devotada à causa pública, que nele se alinha à força, sem a qual ela
abortava essencialmente.
Os historiadores chineses têm narrado cuidadosamente os
detalhes desta administração. Vemos ao mesmo tempo muitos discípulos de
Confúcio chegare aos diversos reinos da China, às mais elevadas funções
administrativas e políticas, enquanto outros continuavam a propaganda
filosófica e moral de seu mestre. Por
ocasião da morte do rei de Lu, seu protetor.
Ele abandonou os seus negócios públicos, e também
imediatamente o seu país natal, e continuou acompanhado de um certo numero de
discípulos, em suas peregrinações filosóficas e sociais, pelo outros diversos
pequenos reinos da China.
Depois de 14 anos, retornou ao seu país natal, consagrou
inteiramente os últimos anos de sua vida, a elaboração definitiva de sua
doutrina, e a formação de discípulos, que deveriam continuar a sua obra. Entre
os primeiro discípulos foi seu neto Tse-se – Pensamento de Sábio” filho de
Po-yo – “ Pescado do Príncipe”; outros dizem que foi Tseng tse; podemos ainda
citar entre os primeiros Tse-lu e Po-niu.
Mas entre os grandes
discípulos, o mais ilustre foi Ien Roe, Tse-tsien, Poniu e Jan Iong – Os que
brilharam em eloqüência nos discursos foram Tsae Yu e Tse-kong. Os talentos
para governar distinguiram a Tse-ieu e Tse-lu; os que sobressaíram em estudo e
memória foram, Tse-si e Tse-sai. Beirando a idade dos 60 anos, perdeu a sua
mulher, logo depois o seu filho, e por fim o seu mais amado discípulo,
Yen-hoel, aquele em que ele depositava a sua predileção, pois via nele, a
Humildade, a Virtude por excelência. Assim os últimos anos de vida, deste
renovador social, foram amargurados.
Algum tempo antes de
sua morte, reuniu os seus principais discípulos, e fez-lhes as últimas
recomendações, sobre o espírito de sua doutrina, e as condições de sua
aplicação:
“A erva sem suco, disse ele, está inteiramente seca, eu não
tenho mais onde me assentar para repousar; a sã doutrina tinha inteiramente
desaparecida; tratei de invocá-la e de restabelecer o seu império. Não
consegui; encontrar-se-á alguém depois de minha morte, que queira tomar para
si, tão penoso encargo?“
Seus funerais foram
organizados pelos discípulos, com piedoso cuidado; eles instituíram o uso de
uma peregrinação anual ao túmulo do grande renovador.
Sua escola prosperou, a sua influencia aumentou e honras
gradualmente crescentes foram concebidas à memória de uma das mais nobres
figuras intelectual da natureza humana, de que possa honrar a Humanidade; do
homem que mais decisivamente influiu, e ainda influi, sobre a civilização
chinesa; isto é, sobre o destino de centenas de milhões de Homens.
O verdadeiro culto à
Confúcio, começou sobretudo, sob o fundador da dinastia dos Han, que foi uma
dinastia reparadora e progressiva. Elevaram-se grandes templos em memória de
Confúcio, nas principais cidades da China. Foi sobretudo com Tchen-Thsoung,
terceiro imperador da dinastia Song, que o culto à Confúcio, constituiu-se definitivamente;
“ sob a dinastia dos Han, nomearam-no Koung ( Duque); a dinastia dos Tang o
indicou como o primeiro Santo; ou homem puro; foi em seguida designado sob o
título de pregador real; sua estátua, foi revestida de uma túnica, igualmente
real, e uma coroa foi colocada em sua cabeça. Sob a dinastia Ming, foi nomeado
o mais santo, o mais sábio e o mais virtuoso dos preceptores dos homens.” Por
fim, os seus descendentes diretos, por uma exceção única, possuíam o título de
nobres hereditários, que gozavam até 1911.
Infelizmente não posso
me estender sobre a vida deste Vulto Universal, pois o objetivo é outro, mas
não devemos nos esquecer de apreciar o conjunto de sua obra.
Não há propriamente
falando, obras de Confúcio; além da compilação dos antigos monumentos da China;
compilação que constitui os livros sagrados, propriamente ditos, que existem
sob o nome de Confúcio; algumas obras redigidas pelos seus discípulos
imediatos, que contem não somente suas teorias, mais ainda muitas vezes suas
próprias palavras.
As quatro principais
obras que trazem o nome de Confúcio são: Hiao-king – O Livro da Obediência
Filial; Ta-hio – O Grande Estudo; O Tchoung-young – A Invariabilidade no Meio;
e Lun-yu – Entretenimentos Filosóficos. As duas principais obras, o Hiao-king e
o Ta-ki foram redigidas por um discípulo imediato de Confúcio, Tseng-tse.
Tseng-tse tinha nascido em Lu, na cidade de Wou, e tinha 46 anos a menos que
seu Mestre; nasceu por conseqüência em 506 a.C. O Tchoung-young ou
Invariabilidade do Meio, foi redigido por Tse-se, neto de Confúcio, que
continuou a linha direta desta Grande Família. Tse-se tinha trinta e sete anos,
quando perdeu o seu avô. Enfim o Lun-yu ou Entretenimentos Filosóficos foram
recolhidos por alguns discípulos de Confúcio. Vamos nesta parte do trabalho,
fornecer citações destas diversas obras : O Ta-hio , O Tchoung-young e O
Lun-yu, afim de melhor fazer ressaltar o espírito geral da sistematização
filosófica e moral, do Grande Sábio da China – o Senhor Confúcio. O Ta-hio, o
Grande Estudo, se compõem de um argumento atribuído à Confúcio, e de uma
explicação devida a Tseng-tse, discípulo deste filósofo. Esta curtíssima obra,
tem sido por parte dos filósofos chineses, objeto de numerosos comentários, o
mais notável, e que acompanha muitas vezes, é devido a Tchou-hi, que viveu
pelos fins do século XII, da era cristã. Confúcio estabelece claramente em
Ta-hio, o problema fundamental do aperfeiçoamento moral. “A lei do grande
estudo, ou da filosofia prática, consiste em desenvolver, e por em evidencia o
princípio luminoso, da razão que recebemos do Céu (Do Firmamento, do Cosmos) em
renovar os homens, e fazer consistir o seu destino definitivo, no
aperfeiçoamento ou soberano bem”. “Desde o homem mais elevado em dignidade, até
o mais humilde, e mais obscuro, deve haver DEVER igual para todos; corrigir e
melhorar sua pessoa, ou o aperfeiçoamento de si mesmo; é a base fundamental de
todo progresso e de todo o desenvolvimento”. Eis, claramente estabelecida, em
termos precisos o problema supremo: o aperfeiçoamento moral de cada um, tal é o
destino final. O objetivo da filosofia 139 moral é chegar a construir este
aperfeiçoamento. Confúcio também concebeu, de uma maneira geral, as condições
mentais da solução deste problema. Os seres da natureza, têm causas e efeitos;
as ações humanas têm um princípio e conseqüências: conhecer as causas e os
efeitos, os princípios e as conseqüências, é aproximar-se muito de perto, do
método racional, com o qual se chaga à perfeição. “É preciso conhecer
primeiramente o objetivo que se deve atingir, ou seu destino definitivo, para
depois tomar uma determinação; tomada a determinação, pode-se em seguida ter o
espírito tranqüilo e calmo; tendo o espírito tranqüilo e calmo, pode-se depois
gozar deste repouso inalterável, que nada pode perturbar; e pode-se em seguida,
meditar e formar um juízo sobre a essência das coisas; tendo meditado e formado
um juízo, sobre a essência das coisas, pode-se em seguida atingir o estado de
aperfeiçoamento desejado.”
Assim, Confúcio estabelece, de um modo nítido e preciso, sem
nenhuma espécie de preocupação com o sobrenatural teológico, o problema
definitivo do destino do Ser humano: atingir pelo aperfeiçoamento moral o
estado de plena unidade, empregando a inteligência, em descobrir as condições e
os meios de solução. O comentário de seu discípulo Tseng-tse é destinado a
desenvolver estas noções fundamentais, referindo-as a história primitiva, e as
mais antigas tradições da China, de modo a manter e consolidar a continuidade
social, em vez de rompe-la revolucionariamente, como fizeram até então, os
outros renovadores. “Quanto era vasta e profunda a virtude de Wou-wang; diz
Tseng-tse, no seu comentário. Como príncipe, colocava o seu destino na prática
da Humanidade, para com os homens; isto é, colocava o seu destino, nos devidos
respeitos ao soberano.; como filho, colocava seu destino na prática da piedade
filial; como pai, colocava o seu destino, na ternura paternal; e si entretinha
nas relações, ou contraia obrigações, com os homens, e colocava o seu destino,
na prática da sinceridade e da fidelidade” . Desta forma acima, vê-se indicado,
em que consiste este aperfeiçoamento moral, objetivo supremo da existência:
fazer dominar as diversas relações naturais, pela Humanidade, a submissão, a
piedade filial, a ternura paternal, a sinceridade e a fidelidade.
A concepção precisa do estado de perfeição, que concebe
Confúcio, está exposta claramente e com precisão, principalmente no
Tchoung-young ou Invariabilidade do Meio, devido como já foi dito, ao seu neto,
Tse-se.
Nesta obra, a mais
sistemática que por ventura tenha emanado diretamente de Confúcio, Tse-se
desenvolveu as condições mentais; e expõe a coordenação moral, donde resulta o
tipo de perfeição, cuja a realização, é preciso ter em mira, em cada situação;
mas que só pode ser atingido, por homens excepcionais, destinados ao governo
moral ou político das sociedades. Vejamos como Confúcio, concebe o tipo de
filósofo, ou do homem que chegou a realizar o ideal da perfeição. Texto abaixo
extraído do Tchoung-young. “Somente os homens soberanamente perfeitos, podem
neste mundo, conhecer profundamente a sua própria natureza; a lei natural do
seu ser, e os deveres que dela decorrem; podendo conhecer a fundo, sua própria
natureza e os DEVERES, que dela decorrem; podem por isso mesmo conhecer
profundamente a natureza dos outros homens; a lei dos seus seres, e
ensinar-lhes, todos os deveres, que eles têm a observar para cumprir o mandato
do Céu; podendo conhecer a fundo, a natureza dos outros homens; a Lei dos ser
deles, e ensinar-lhes os deveres que eles têm que observar, para cumprir o
mandato do Céu; podem por isso mesmo conhecer, à fundo, a natureza dos outros
seres vivos e vegetais e faze-los cumprir a Lei da Vitalidade, segundo a sua
própria natureza; podendo conhecer a fundo a natureza dos seres vivos e
vegetais, e fazê-los cumprir a sua lei da vitalidade, segundo sua própria
natureza; podem por isso mesmo, por meio de suas faculdades intelectuais
superiores, ajudar o Céu e a Terra,na transformação e manutenção dos seres;
podem por isso mesmo construir, um terceiro poder, entre a Céu e a Terra”.
“Os que vêm
imediatamente depois destes homens, soberanamente perfeitos, por sua própria
natureza, são aqueles que empregam todos os seus esforços, para retificar as
suas inclinações desviadas do bem” O homem perfeito é aquele que dominado pelas
inclinações morais, chega pelo conhecimento das leis naturais dos corpos vivos
e inorgânicos, a modificá-las regularmente, de modo a aperfeiçoar, por uma
intervenção sistemática, a ordem natural. Confúcio constitui assim, o nobre
tipo do poder modificador, que constitui, segundo a sua bela expressão, um
terceiro poder intermediário entre o Céu e a Terra. Existe aí como um profundo
pressentimento da ordem normal, caracterizada com efeito pelo ativo
aperfeiçoamento da ordem natural, sob o impulso de uma sociabilidade
preponderante. Confúcio conheceu as leis gerais da atividade do Céu e da Terra,
como base de uma sábia modificabilidade da ordem espontânea.
Confúcio trouxe ao aperfeiçoamento para a civilização
fetíchica, pela astrolatria, de onde emana tomar emprestado, para sua
sistematização política e moral as leis naturais do Céu e da Terra; um tipo de
ordem e de regularidade, que ele procura realizar na vida humana, pela preponderância
habitual, da sociabilidade sobre a personalidade; a única que pode realizar na
ordem humana, o tipo de regularidade, fornecido pela observação do mundo
exterior. Uma citação característica que nos mostra efetivamente, que é
exatamente, sobre impulsos fetíchicos, da observação das leis naturais do
Mundo, que Confúcio construiu o seu tipo de Ordem.
“O filósofo Confúcio, dizia Tseu-sse, recordava com
veneração, os tempos dos antigos imperadores, Yao e Chun; mas se recordava
principalmente pela conduta dos soberanos, mais recentes Wen e Wou.
Tomando por norma, de suas ações, as leis naturais e
imutáveis, que regem os corpos celestes, por cima de nossas cabeças; que
fornecia a sucessão regular das estações, que se opera no Céu; a nossos pés;
ele se conformava com as leis, da terra e da água, fixas ou móveis”.
“Pode-se comparar Confúcio ao Céu, como a Terra que contem
alimentos e alimentam tudo, que cobrem e envolve tudo; pode-se compará-lo as
quatro estações, que se sucedem continuamente, sem interrupção; e pode-se
compará-lo também ao sol e a lua, que clareiam alternadamente o Mundo.” “Todos
os seres da natureza vivem juntos da vida universal e não se prejudicam uns aos
outros; todas as leis que regulam as estações e os corpos celestes realizam-se
ao mesmo tempo sem se contrariarem entre si. Uma das faculdades parciais da
natureza é fazer correr esse riacho, mas as grandes energias, as grandes e
soberanas capacidades, produzem e transformam todos os seres. Eis com efeito o
que torna grande o Céu e a Terra.”
A ordem exterior fornece ao mesmo tempo, o tipo de toda a
regularidade e o ponto de partida, e condição necessária, de toda a
modificabilidade. Mas esta reação não pode, nem deve ser operada, senão sob a
direção de uma verdadeira sistematização moral. Os caracteres gerais desta
sistematização, cujo princípio fundamental, apenas foi indicado, como sendo a
preponderância da sociabilidade sobre a personalidade. “Os deveres mais
universais, para espécie humana, são em numero de cinco ; e o homem possui três
capacidades e competências naturais, para praticá-los. Os cinco deveres são :
as relações que devem existir entre o príncipe e os ministros, o pai e os
filhos, o marido e a mulher, os irmãos mais velhos e os irmãos mais moços; e a
união dos amigos entre si; cujas cinco relações, constituem a lei natural do
Dever, a mais universal dos homens. A consciência que é a luz da Inteligência,
para distinguir o bem do mal; a Humanidade, que é a equidade do coração; a
coragem moral, que é a força da alma; são as três grandes e universais
faculdades morais do homem; mas aquilo de que nós devemos servir para praticar
os cinco grandes deveres, se reduz a uma só e única condição.” Segundo o
crítico e comentador Tchou-hi (Século XII da era cristã), resulta do
Tchoung-young, que a prudência esclarecida, a Humanidade ou a benevolência
universal, para com os homens e a força da alma, são as três 142 virtudes
universais ou capitais, ou a porta por onde se entra, no caminho direto, que
devem seguir todos os homens. Segundo Confúcio, as faculdades essenciais para
se atingir este estado de perfeição moral que permite nos devotarmos ao serviço
de todos os homens são: a prudência, a Humanidade e a coragem. De acordo com
tal concepção, Confúcio constituiu, o tipo de homem de Estado, estadista,
votado ao serviço contínuo da sociedade: “Todos aqueles que governam os
Impérios e os reinos, têm nove regras invariáveis a seguir, a saber: regular-se
ou aperfeiçoar-se a si mesmo; reverenciar os sábios; amar seus pais; honrar os
primeiros funcionários do Estado, ou os Ministros; estar em perfeita harmonia
com os outros funcionários e magistrados; tratar e querer ao povo, como a um
filho; atrair para si todos os sábios e artistas; acolher com agrado os homens
que vêm de longe, e tratar com amizade, todos os grandes vassalos”. “Desde que
o príncipe estivesse bem estruturado e tenha melhorado moralmente a sua pessoa,
desde logo os deveres universais serão cumpridos, para com ele mesmo, etc, etc.
.“. (Tchoung-young) Além de uma tal sistematização moral, Confúcio, em harmonia
com este grande objetivo de sua existência, recolheu todos os antigos
monumentos literários da civilização chinesa, donde resultaram como retoques
literários, essencialmente aqueles, sob a dinastia dos Han (206 a . C.), os livros
sagrados da China.
Estes livros sagrados são: Y king (I Ching) ou Livro das
Transformações ou das Transmutações, o Chou-king ou Livro dos Anais, o Chi-king
ou Livro dos Versos e o Li-ki ou Livro dos Ritos. O Chi-king ou Livro dos
Versos é uma coleção das mais antigas poesia chinesas e que remontam às épocas
mais afastadas desta civilização; Li-ki ou Livro dos Ritos é uma coleção de
ritos, segundo os quais se regulam as diversas relações humanas. Este livro
contém documentos antiqüíssimos. O Y-king ou I Ching ou Livro das
Transmutações, é um das mais antigas relíquias da civilização chinesas. Na
Antiga China Fetichista, o oráculo I Ching ou Livro das Mudanças ou
Transmutações, em 1123 aC, escrito por Wen Wang, na prisão; baseado no Livro
das 64 Combinações - Hsiangs ou Trigramas, escrito por Fu Hsi ( Fu Hi)em 2852
aC., este último livro corresponde também a uma belíssima tentativa de
compreender o Mundo e o Homem, mediante a associação de casos concretos, ao
aspecto mais geral das mutações universais, comuns a todos os Seres. E
finalmente o livro sagrado e mais importante para Confúcio, que foi Chou-king
ou Livros dos Anais, que contem noções históricas, do mais elevado interesse
sobre as antigas dinastias da China. O período que esta obra abrange, se estende
desde os Imperadores Yao e Chu (2357 a.C. até o ano 790 a.C)
A história autentica da China, não remonta, segundo os
críticos, muito além de 2357 a.C; depois disso entra-se em períodos nebulosos,
ou semi nebulosos, com muitas fábulas.
Assim, Confúcio além
da direta obra de sua sistematização moral colecionou as fundamentais tradições
da civilização chinesa, da qual se apresentava como continuador, com toda
razão; porque, com efeito, a sua obra continuava a aperfeiçoar a tradição, em
vez de maldizê-la; como os cristãos em relação ao politeísmo teológico e ao
fetichismo.
Com base nestas
informações, podemos sumariamente resumir a obra de Confúcio, e a apreciação do
seu caráter e do seu papel.
Não há dúvida que este grande filósofo, apoiou-se sobre o
conjunto dos antecedentes e das tradições, para produzir uma imensa evolução
moral e social, em seu povo. Não se trata aqui, destas hipóteses arbitrárias,
pelas quais o cristianismo se construiu na tradição artificial, na impotência,
de realmente representar uma teoria verdadeiramente científica, dos
antecedentes de onde emanou. No entanto, Confúcio é um filósofo que se apóia,
real e sinceramente, sobre uma série dos antecedentes da civilização chinesa, e
que prossegue no desenvolvimento sistemático dessa civilização. É um tipo
verdadeiramente normal, e intimamente relacionado ao verdadeiro espírito
científico, que apóia sempre as suas construções atuais, sobre as construções
anteriores. Sob o impulso cristão e revolucionário; os Ocidentais, pelo
contrário, nas suas especulações morais e sociais, que desenvolveram uma
disposição ao mesmo tempo irracional e universal, em desconhecer completamente
a continuidade social. Confúcio busca seu ponto de apoio no fetichismo Astrolátrico,
base da civilização chinesa. Aceitando inteiramente o fetichismo Astrolátrico e
respeitando profundamente o culto construído sobre estas bases, ele começa por
operar no fetichismo uma transformação, que se realizará plenamente entre os
mais distintos dos seus sucessores. Com efeito começa a operar a distinção
entre a atividade e a vida. O fetichismo considera todos os seres não somente
como ativos (o que é perfeitamente científico) mas ainda como vivos, o que não
é verdadeiro senão, com relação a um certo número dentre eles. Em Confúcio, já
se vê claramente aparecer que se trata muito mais das Leis Naturais do Céu e da
Terra, do que as vontades destes dois seres preponderantes, de tal sorte que, o
comando seja concebido como um mandato do Céu; e este mandato tende a
representar, em vez da vontade celeste, a fatalidade que resulta das leis
naturais regulares; esta concepção de Confúcio tem tanto maior importância,
quanto he dá mais generalidade, concebendo essencialmente todos os fenômenos
sociais, como regulados pelas Leis dos fenômenos celestes; o que é verdadeiro
até um certo grau.
Os fenômenos
astronômicos dominam os fenômenos sociológicos, mas não no grau de precisão, em
que se lhe deixa supor em princípio. Assim os eminentes pensadores da Escola de
Confúcio, tenderam espontaneamente para o estado científico, concebendo todos
os corpos, como ativos, mas não como vivos; de modo a apresentar um estado
mental superior em racionalidade, ao estado teológicometafísico.
Sobre a base construída sobre o regime Astrolátrico, Confúcio
construiu sua sistematização moral, tomando emprestado ao fetichismo Astrolátrico
as noções de ordem e submissão, que resultam necessariamente do tipo dos
fenômenos celestes. Sobre este ponto, ele coordenou a moral, com o pleno
sentimento de um grande destino político e social. Trata-se aqui, de uma moral
verdadeiramente prática, em que os deveres, próprios as diversas relações da
vida humana, são claramente formulados, concebendo sempre, que o último
objetivo é o estado de plena unidade caracterizada pela preponderância da
sociabilidade sobre a personalidade. Como condição da solução em tal problema,
ele sistematizou a preponderância da família, estabelecida ao mesmo tempo, sob
a submissão filial e o devotamento paterno. O conjunto desta construção moral é
muito geral. Ele está como se vê, completamente despida de toda preocupação
sobrenatural. Como já foi explicado neste artigo à construção moral dependia da
ausência da inteligência teológica e da preponderância contínua do regimen
fetíchico-astrolático. A propósito desta ausência completa de crenças
sobrenaturais, faz registrar que na moral de Confúcio, falta a sanção. Mas é
lógico; pois aqueles que são dominados pelos preconceitos teológico-metafísicos,
ao nível de não compreender que esta pretendida ausência de sanção constitui ao
mesmo tempo, a realidade e a nobreza da moral de Confúcio. Porque a falta de
sanção sobrenatural, que é sempre essencialmente pessoal faz ressaltar em
Confúcio a admissão formal da existência espontânea de sentimentos benévolos.
Confúcio reconhece a moralidade espontânea da natureza
humana. A sanção consiste precisamente na felicidade, de fazer o bem pelo bem,
neste estado de plena unidade, que visa como ideal o verdadeiro sábio, sob o
impulso de uma ardente sociabilidade, esclarecida por uma ardente razão. As
concepções teológico-metafísicas têm tendido a degradar neste particular, a
verdadeira noção da natureza, sobretudo depois que os inconvenientes da
doutrina não são mais contrabalançados pela sabedoria do sacerdócio.
Politicamente, o gradual desenvolvimento da reforma de Confúcio, teve como
resultado, dar a classe modificadora da civilização chinesa, uma sólida
constituição, que assegurou e aperfeiçoou sua ação, cuja influencia ainda
perdura e tem sido continuamente crescente sobre a sociedade correspondente.
Tal é o conjunto desta grande existência sistemática e ativamente votada à
realização de uma nobre reforma social. Certamente a civilização ocidental, nos
apresentava tipos superiores, no que tange a inteligência ou como atividade, ao
filósofo chinês. Aristóteles e Arquimedes possuíam uma inteligência de ordem
mais elevada. César foi um homem de Estado, de muito maior pujança. Mas podemos
dizer com absoluta certeza que o Ocidente não formou um tipo que realizou ou
venha realizar, no mesmo grau que Confúcio, esta grande aliança do Bom Senso
com a Moralidade; ao mesmo tempo uma longa atividade devotada ao melhoramento
geral da correspondente sociedade.
Eis um filósofo, sem apoiar sua renovação, sobre nenhuma
superstição; proclamando o aperfeiçoamento moral, como objetivo supremo, e
fazendo-o consistir, em um devotamento contínuo à Sociedade, cujas melhorias
nas bases essenciais, não rompendo de modo algum, com as tradições da
civilização, que deseja melhorar; e dá por sanção definitiva, a tal vida, o
profundo sentimento de haver cumprido o seu dever. Certamente os Ocidentais
podem se instruir na contemplação semelhante podendo aprender em contraposição
à irracional gratidão cristã e revolucionária; que pode procurar realizar a
evolução sem romper com os predecessores; e que se modifica tanto mais
dignamente uma sociedade, quanto mais cientemente se procura apoio, sobre
aqueles que nos precederam, fazendo inteira justiça à sua ação. Assim, o
Ocidente, se conseguir o nível de esclarecimento científico e for regenerado
pelo fetichismo chinês, colocará cada vez mais entre os objetos de sua intima
veneração, o ilustre filósofo que um imenso império proclamou, como o mais
eminente dos renovadores; depois que Augusto Comte, bem mais tarde, sistematizou
cientificamente a Doutrina da Humanidade. Neste ponto do trabalho podemos
analisar a sistematização de Confúcio, em si mesma, e relativamente a
coordenação definitiva da ciência humana.
A Teoria de Confúcio consiste em uma empírica coordenação moral,
tendo por preciso destino, a direção efetiva da natureza humana.
Ora a imensa lacuna de desta coordenação, é precisamente a
própria lacuna da civilização chinesa; isto é, a ausência de um desenvolvimento
conveniente da ciência abstrata; para fornecer uma base sistemática à moral, e
que permitisse uma suficiente modificação, quer no mundo exterior, quer do
mundo psíquico do homem. Porque a modificabilidade repousa inteiramente sobre o
estabelecimento das Leis Abstratas Naturais. É o conhecimento das Leis
Abstratas Naturais, dos fenômenos, que permite unicamente instituir uma
modificabilidade, ao mesmo tempo poderosa e regular. Para precisar uma
apreciação desta ordem, vamos relacioná-la pela Série Enciclopédica, na qual
Augusto Comte, condensou hierarquicamente o conjunto das ciências abstratas. A
hierarquia enciclopédica oferece-nos, as ciências abstratas na seguinte ordem:
matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia e moral. A moral
que arremata, esta longa evolução mental, compõe-se de duas partes: a 1a , a
Moral Teórica instituindo o conhecimento da natureza humana, isto é, a
Psicologia Científica ou Ciência da Construção; a 2a é a Moral Prática,
instituindo o governo da natureza humana; isto é, a Arte da Educação, não só de
ensinar subordinar os Sentimentos do egoísmo aos do Altruísmo, como também
alertar a subordinação do Progresso à Ordem; dos direitos aos Deveres; e da
análise à Síntese; o que permitiu admitir-se que não há normalmente senão ações
práticas, atuando umas sobre as coisas, e outras sobre os homens. 146 Mas, a
natureza necessariamente sistemática, do segundo modo de ação, tem feito com
que se dê à Classe, que dele se ocupa, o nome de Classe Teórica.
Notamos depois destes esclarecimentos, que claramente, a
existência de uma profunda lacuna, que a própria natureza da civilização
chinesa, impôs à sistematização de Confúcio. Faltava-lhe a longa elaboração
abstrata, que vai da matemática à moral, e sem a qual, não se pode estabelecer
uma verdadeira teoria, suficientemente profunda, da natureza humana. Mas esta
mesma lacuna teórica é para o governo da natureza humana, uma causa de grande
insuficiência; porque o homem social, não pode ser assim insuficientemente
dirigido, por falta de um profundo conhecimento das Leis Naturais Abstratas,
dos diversos fenômenos que o dominam, desde os fenômenos matemáticos, até os
fenômenos sociológicos e morais; ou ditos sociais. Ora, a evolução ulterior da
China, não podia preencher tal lacuna, tendo a própria natureza da civilização
chinesa, ser antipática a instituição da abstração; e por conseqüência, ela era
imprópria às necessárias elaborações científicas. O trabalho filosófico próprio
da Escola de Confúcio reduzia-se essencialmente a alguns desenvolvimentos e
comentários. A análise, que acabamos de realizar, mostra que até 1840, início
da Época Moderna da China (1840 a 1919), o povo chinês, carregava uma profunda
insuficiência intelectual científica, devido a esta bela sistematização
empírica de Confúcio; no entanto esta mesma análise mostra ao mesmo tempo, de
que forma o Ocidente poderia ter atuado, pelos seus órgãos mais eminentes,
sobre tal civilização, para ter respeitado o seu grande estado de comportamento
Moral e para manter a sua cultura milenar, altamente saudável à evolução da Humanidade.
Se a ciência Ocidental tivesse aceito como Confúcio, a supremacia da Moral,
isto é, “ Viver para Outrem” , chegaria então a fazer compreender aos
intelectuais diretores desta civilização, da necessidade de dar-lhes uma base,
que viesse à consolidá-la e a fortificá-la; e que lhe permitisse enfim,
instituir um conveniente e pacífico governo, da natureza humana.
Perdeu-se esta grande oportunidade, pois em 1860 Pierre
Laffitte, discípulo direto de Augusto Comte, indicava uma linha de conduta,
para facilitar o entendimento com a China, mas o positivismo nesta época, como
hoje em dia, ainda está em uma fase embrionária, com poucos humanos no poder,
para poder fazer chegar tais proposições, de elevado nível político e moral,
aos atuais governantes tanto do Ocidente como do Oriente. Mas, penso que chegou
o momento de reativar, alertando que os contatos atuais da China com o Mundo
invertem esta posição, de só uma mão visitar o território Chinês que farão
compreender, os espíritos filosóficos que operavam no período anterior a 1911;
bem como ainda operam na maioria da população chinesa, para criarmos a
necessidade de uma ciência social, que saiba apreciar estados sociais tão
diferentes, como os gerados pelos raciocínios fetichistas dos chineses e dos
teológico-metafísicos do Ocidente; sem destruir a cultura milenar chinesa, e
que seja mantida, passado as mentes mais inteligentes, a operarem no campo
científico; e as menos, ficariam no fetichismo Astrolátrico confunciano, para o
bem da China; e não para o bem dos capitalistas ocidentais, com seus teologismos
bíblicos ; que pregam :” façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço” ,
que só resolvem os conflitos, pela guerra. “ O Vencedor da Guerra, está com
Deus” Caso os Positivistas tivessem tido oportunidade e meios de comunicação
com os comunistas da época de Mao, provavelmente a Sociologia Positiva, de
Augusto Comte, com conhecimento da Ciência Moral Positiva, pudesse ter tido
sucesso para colaborar, no freio do caos capitalista democrático.; a necessidade
desta sociologia teria tido efeito gradual, por uma série incontestável, a
necessidade da biologia, da química, da física, da astronomia e da matemática,
segundo as dependências, que ligam entre si, as diversas ordens irredutíveis
dos fenômenos; donde resultaria em resumo, a necessidade para que os pensadores
chineses, da Academia de Ciências Sociais da China, efetuassem hoje, um estudo
sistemático, da grande hierarquia abstrata, base essencial do estudo mental
definitivo da espécie humana; bem como a proposta positivista de um Regime
Societocrático.
Pelo Positivismo, que respeitaria a evolução total da China,
operaria a renovação total do seu estado mental, isto é, de um modo tanto
quanto mais completo, incorporando o fetichismo Astrolátrico, que desta forma
adotaria o seu culto oficial; sem necessidade de passar pelo estado teológico e
metafísico, tão retrógrado e prejudicial ao estado pacífico do Ser humano; e
atingir o estado positivo ou científico, da evolução da inteligência humana;
como está sendo feito de forma errônea hoje em dia, fazendo esquecer o
Altruísmo, para entrarem no egoísmo tão maléfico a sociabilidade humana; com o
capitalismo; que provoca o desemprego em massa; os conflitos internos de
mercado, da disputa constante, a maximização dos direitos, com a minimização
dos Deveres; enriquecendo alguns poucos, e empobrecendo a maioria, levando
muitos ao estado de miserabilidade. Mais caos interno. O melhor era na época
dos Impérios, onde os pobres não sabiam como os ricos se comportavam. Agora sabem,
e vão desejar ser ricos, de qualquer forma, por roubo, por corrupção, e etc..
Considerações Gerais sobre a Escola de
Confúcio ou Escola dos Letrados. Indicaremos agora de modo sumário, os
principais trabalhos criados pela Escola de Confúcio, ou melhor, o espírito
geral que domina tais trabalhos. É evidente, que não se trata aqui de
relatarmos uma história detalhada da filosofia e da ciência chinesa; isto
levaria muito tempo e não terá no momento, um grande interesse; o importante
para todos nós é conhecer seu essencial caráter. O estudo aprofundado dos
historiadores chineses nos forneceria novos detalhes; vastos trabalhos têm sido
feitos, sobre este assunto, e eles são mais que suficientes, para contribuir
segundo as leis gerais da filosofia da história, uma sã teoria científica,
desta evolução mental. Três ordens de trabalho emanam da Escola de Confúcio e
estão profundamente impregnados do próprio espírito da civilização chinesa, tal
como nós a definimos:
primeiramente obras
morais de desenvolvendo das doutrinas de Confúcio; e em
segundo lugar, uma
filosofia natural que transforma o fetichismo Astrolátrico, pela separação da
idéia da vida, apoiando sobre as bases estabelecidas por Confúcio;
enfim, imensos
trabalhos de erudição de estatística, e etc. e etc.,
em uma palavra, trabalhos de sociologia concreta.
Por que os trabalhos de erudição são trabalhos de sociologia
concreta?
Porque os trabalhos de erudição são no fundo, coleções de
observações que servem de ponto de partida, a verdadeiros trabalhos científicos
em sociologia. Foram nestes trabalhos preparatórios, que parou a civilização
chinesa, segundo o espírito ou inteligência concreta que a caracteriza.
Vejamos primeiramente
os trabalhos de filosofia moral.
Estes trabalhos são
imensos e com numerosos comentários de Confúcio; eles explicam e desenvolvem as
formulas da sistematização empírica deste renovador, mas sem mudar coisa
alguma, ao espírito(inteligência) fundamental da sua construção; baseando-se no
sistema de exames e no estudo dos livros morais de Confúcio; desenvolveu naturalmente
esta imensa literatura dos comentadores.
O principal filósofo que marcou o caminho praticado por
Confúcio, foi Mencio (Mengtseu). Meng-tseu nasceu em 371 a.C. na província de
Chan-toung e morreu no ano de 289 a . C., com idade de 82 anos; ocupava com
justiça, na estima dos chineses, lugar imediato a de Confúcio. Prestavam-lhe
honras públicas, análogas as prestadas ao próprio Confúcio, a quem estava
sempre associado na veneração pública.
Há em Meng-tseu, um caráter particular que constituiu um progresso
real, na construção dos princípios de Confúcio. Muito mais que Confúcio, ele
sistematizou as condições de eliminação da família Imperial ou do elemento
central; eliminação necessária, quando este não mais o preenche, de um modo
verdadeiramente suportável, as condições fundamentais de sua função.
Estabeleceu claramente que quando o chefe de família imperial
não mais preenchesse, os deveres morais e sociais ligados a sua função, deixa
de ser chefe, isto é, deixa de ser filho do Céu;
o mandato do Céu, em
virtude do qual ele governa, isto é, devido ao descumprimento das leis naturais
dos astros; deve serlhe retirado. Há em Meng-tseu, um caráter de mais clara
oposição às invasões e as perturbações, que podia suscitar o poder imperial,
que decresce como elemento da unidade de conservação e de extensão, da
civilização chinesa. Não há duvida que é necessário se modificar algumas vezes
o órgão preponderante da sociedade. Foi esta necessidade que Meng-tseu
sistematizou, determinando suas condições gerais. Um tal espírito, está como se
vê, bem afastado do espírito de submissão absoluta, que emana do espírito
(inteligência) puramente teológico.
Entre os numerosos comentaristas que abordam Confúcio,
podemos, sobretudo citar Tchou-hi, que viveu pelos fins do século XII a. C.,
sob a dinastia dos Song. Tchou-hi tornou-se por excelência o comentarista
clássico; e seus comentários não são normalmente separados da obra de Confúcio
e de Meng-tseu.
Estes comentários são plenos de sabedoria e de bom senso,
como os de todos os letrados chineses em geral; quando seus espíritos não são
alterados, pelas extravagâncias teológicas dos budistas e dos Tao-sses. Estes
trabalhos de filosofia moral, consistentes em comentários nos livros
fundamentais da China têm sido referidos até em nossos dias de hoje; e muitos
soberanos colaboraram para construir estes trabalhos. Confúcio havia
distinguido a atividade da vida.
Foi o ponto capital de partida, onde resultou uma filosofia
natural que constituiu um intermediário entre o fetichismo e a ciência propriamente
dita, base dogmática do Positivismo.
Assim podemos dizer
que Tchou-hi fundou uma filosofia atomística, na qual estabeleceu
definitivamente para os espíritos desenvolvidos pelo estudo, ou cultivados, a
separação nos corpos, da noção de atividade, da noção de vida; esboçada por
Confúcio. Os fenômenos não resultam mais, como no fetichismo primitivo
propriamente dito; das vontades dos seres correspondentes, que as manifestavam;
é simplesmente um resultado dos diversos modos de atividade desses seres; isto é,
conhecer as leis naturais que os regem; isto é, que regem os seus fenômenos.
Tchou-hi admite que a atividade especial de cada um desses Seres produz os
diversos fenômenos: atividade especial cuja manifestação se acha regulada pela
atividade preponderante do Céu; o que é uma transformação positiva do
fetichismo astrolático da China; e esta concepção tem a vantagem de representar
a preponderância normal dos fenômenos astronômicos sobre todos os outros. Esta
preponderância é filosoficamente estendida, posto que de um modo exagerado, até
os fenômenos sociais, cujas evoluções, estão ligadas às revoluções
astronômicas. É incontestável que a vegetalidade, a animalidade e a
sociabilidade são efetivamente dominadas, pelas leis naturais mais gerais do
mundo. Desta forma, em uma filosofia, onde impere as noções de seres
sobrenaturais, exteriores aos seres reais, e que produz neles os diversos
fenômenos, segundo inexplicáveis caprichos, é completamente eliminado; tudo se
explica pela atividade espontânea dos próprios seres. Uma concepção aproxima-se
essencialmente da que serve de base à ciência propriamente dita; mas falta-lhe
na sua maioria a instituição da abstração científica. Mas, em que consiste, com
efeito, a verdadeira sistematização científica? Consiste em conhecer a
atividade espontânea dos diversos seres, e em procurar as leis naturais
abstratas, próprias aos seus diversos modos de atividade, ao mesmo tempo comuns
a um grande numero de seres diferentes. Os chineses também têm um considerável
numero de obras de história natural, isto é, coleções de observações relativas,
aos diversos seres; mas, estas noções muito numerosas e muito precisas são
essencialmente concretas, com o sentimento, muito presente de um destino
prático e não conduziram a nenhuma 150 verdadeira lei biológica. Constataram e
colecionaram com precisão grandíssimos números de observações meteorológicas;
sua astronomia tinha o mesmo caráter – as suas observações puramente concretas
são numerosas e assaz precisas; mas as teorias, propriamente ditas, e no fundo
eram muito pouco desenvolvidas, e emanavam dos astrônomos muçulmanos e cristãos
da época. Em resumo, imensos desenvolvimentos de precisos e numerosos trabalhos
de observações concretas; no entanto, com ausência de ciência verdadeiramente
abstrata, nos estudos cosmológicos e biológicos. Este mesmo caráter,
conseqüência inevitável da própria natureza da civilização chinesa, também se
manifesta, nos estudos relativos aos fenômenos sociais. Deve-se aos chineses,
admiráveis trabalhos de erudição, isto é, de sociologia concreta. Confúcio
ocupou-se de trabalhos históricos, ao ter feito uma compilação dos trabalhos
intelectuais da China, registrando uma história do reino de Lu. No entanto o
sentimento de continuidade, preponderante na China Imperial, e até hoje,
explica suficientemente esta ativa preocupação dos estudos históricos, do mesmo
modo que o espírito verdadeiramente positivo, e desligados de crenças
sobrenaturais, dá perfeitamente conta do espírito de exatidão, de critica
minuciosa e paciente, que caracteriza as principais obras de erudição dos
sábios chineses; as fábulas e as divagações, sempre emanam da influencia
perturbadora dos budistas e dos Tao-sse. Os sábios da escola de Confúcio,
marcharam pacientes e exatos, por esta trilha de estudos históricos; e seus
trabalhos versaram não somente sobre a China, propriamente dita; mas também
sobre todas as populações circunvizinhas; em relação ao comércio e a política.
É neste fecundo celeiro de historiadores chineses que se tem uma abundante
fonte, onde podemos retirar noções positivas e sérias sobre a história e a
geografia das populações tártaras. Foge ao escopo deste trabalho, se propor
fazer um resumo dos trabalhos de erudição, devidos à China; mas devemos deixar
registrado, um dos trabalhos mais eruditos da Velha China, como sendo de
Ssema-thsian, conhecido como o Pai da História, o Heródoto da China. Nasceu em
Louung-men, província de Chen-si, no ano de 165 a .C., sob a dinastias dos Han
do Este; isto é, sob a grande dinastia reparadora, que se tendo aproveitado dos
resultados do enérgico impulso de Thsin-chi-hoangti, retomou o desenvolvimento
da civilização chinesa, seguindo o espírito de seus verdadeiros antecedentes. O
pai de Thsin-chi-hoang-ti, que foi historiógrafo da Corte da China, ensinou o
seu filho a escrever a história do povo chinês, e o educou para que viesse
tornar-se digno de uma distinção. “Ele, Thsin-chi-hoang-ti, foi encarregado de
dirigir uma expedição militar, que o conduziu às províncias de Yuan e de
Sse-tchoun (hoje --------?) Foi durante desta viagem , que ele soube que
Ssema-thsian, seu pai, estava muito enfermo. 151 Não perdeu tempo em retornar,
para junto do pai, mas só chegou, para receber os seus últimos suspiros. Mesmo
no leito da morte, Ssema-thsian, conservou os sentimentos dos deveres; e a
viagem que seu filho acabara de fazer, ainda o interessava, como pai, e como
historiador. Fez com que lhe relatasse detalhadamente a sua viagem, e depois de
tê-lo ouvido, dirigiu-lhe um discurso, que de Thsin-chi-hoang-ti, registrou: O
grande historiador tomou minhas mãos entre as suas, disse ele, e com lágrimas
nos olhos, falou-me assim: Os nossos antepassados, desde o tempo da terceira
dinastia, constantemente ilustraram-se na academia da história. Seria a min que
estaria reservado ver acabar esta honrosa sucessão? Se me sucederes, meu filho,
leve os escritos de nossos antepassados. O imperador cujo glorioso reinado se
estende por toda China, me havia ordenado, que assistisse as solenes
cerimônias, que ele praticara sobre a Montanha Sagrada, não posso por-me às
suas ordens. Para cumprir estas ordens, serás sem dúvida chamado. Lembrai-vos
então dos seus desejos. A piedade filial se mostra primeiramente nos deveres
que se cumprem, para com os pais, nos serviços que se prestam ao príncipe;
enfim no cuidado, que se toma na sua própria glória. É o cúmulo da piedade a
seu pai e a sua mãe, pois deves incrementar gloriosamente, um nome tornado
célebre ”( Abel de Rémusat, Novas Miscelâneas Asiáticas, Vol. II)
Thsin-chi-hoang-ti executou o que o seu pai lhe havia indicado. Tornou-se
historiador, historiógrafo titular e finalmente responsável pela censura, como
censor. Teve a dupla função de narrar o passado e aconselhar o presente.
Preencheu as suas funções de censor, em circunstancias verdadeiramente difíceis
e com um heroísmo que o honra. Os seus trabalhos históricos são imensos,
precisos, conscenciosos e guiados por uma sábia e esclarecida critica. A sua
obra é um admirável monumento de erudição. “A sua obra intitulada Memórias
Históricas” dividi-se em 130 livros, subdivididos em 5 partes. A primeira parte
abrangendo 12 livros, contém sob o nome de Crônica Imperial, tudo o que é
relativo ao Império, considerado no seu conjunto. – A Segunda parte, composta
de 10 livros é formada de quadros históricos e de quadros sinópticos. A
terceira parte em 8 livros, é designada pelo título de Pa-chou, ou os oito
ramos da ciência. O autor trata o conteúdo dos ritos, à música, aos tons
considerados como tipos das medidas de comprimento, a divisão do tempo, as cerimônias
religiosas, a astronomia, aos rios, aos canais, e aos pesos e medidas.
Ssema-thsian trata em outras tantas separadas dissertações de todas as
variações, que tem experimentado estes diversos objetos, durante os 22 séculos,
que é abrangência de sua obra. A Quarta parte formada de 30 livros, encerra a
história genealógica de todas as famílias que possuíam algum território, desde
os grandes vassalos da dinastia dos Zhou, até aos simples ministros da dinastia
dos Han. – Enfim a Quinta e última parte, composta de 70 livros é consagrada a
memória sobre a geografia estrangeira, e a artigos de biografia mais ou menos
extensos, e sobre todos os homens que conquistaram, um nome nos diversos 152
ramos da ciência ou da administração. (Abel de Rémusat, Novas Miscelâneas
Asiática Tomo II). Os letrados da China, escreveram um grande numero de
enciclopédias, umas gerais e outras especiais. Algumas são relativas as
diversas profissões, ao trabalho da porcelana, aos dos bichos da seda, a
agricultura, etc. e etc.. As relativas a diversas administrações, a vigilância
dos seleiros públicos, aos trabalhos de direção dos rios, e etc.. Uma das mais
eminentes enciclopédias chinesas é a de Ma-touan-lin. Ma-touan-lin nasceu na
província de Kiang-si ( Jiangxi ?) ou (Guangxi ?), no meado do século XIII d.
C.; teve como mestre, o célebre comendador Tchou-hi, de quem já falamos. A
queda da dinastia dos Song em 1279 d.C. e a conquista dos Mongoes; fez com que
Tchou-hi, se dedicasse inteiramente aos seus trabalhos de erudição; renunciando
a carreira administrativa. Consagrou 20 anos para terminar sua imensa obra, sob
o nome de Pesquisa aprofundada dos Antigos Monumentos, que constitui o seu
grande título de glória. Assim fica registrado que estudos Concretos,
Especiais, Precisos e Exatos, mas com ausência da Ciência propriamente dita,
foram desenvolvidos, até o ano de 1840 d.C. / 1919 d.C., ou mais recente; que
consiste sempre na descoberta das Leis Naturais Abstratas dos fenômenos; e este
caráter essencial, que resulta do espírito ou inteligência fundamental da
civilização chinesa; não pode ser sensivelmente modificado, nem pelas
divagações abstratas e metafísicas de Taosse e dos budistas, nem tão pouco pela
introdução dos diversos elementos da ciência abstrata, que vinham e vêm dos Hindus,
dos Muçulmanos e dos Cristãos; e muito menos hoje pela Globalização Econômica.
É que só a Doutrina Positivista, demonstra baseada na coordenação dogmática das
diversas ciências abstratas, desde a matemática até a moral, que poderá com
certeza determinar uma transformação gradual, ao mesmo tempo profunda, regular
e pacífica, nesta fetichista grandiosa civilização chinesa.
Tratar a mudança somente pelo lado material, somente
mercadológico, não dará resultado satisfatório; só ocorrerá mais conflito interno,
pois o assunto tem que ser tratado, principalmente pelo enfoque científico da
Operação de Abstração e mantendo o lado Moral propagado por Confúcio; pois foi
da filosofia de Confúcio, que ocorreu a Unidade do povo Chinês.
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