2.4.12 - DÉCIMA SEGUNDA
LEI DA FILOSOFIA PRIMEIRA - Lei
da Mutabilidade ou Lei da Equivalência ou ainda Lei da Ação e Reação.
“Existe sempre equivalência entre
a reação e a ação, se a intensidade de ambas for medida de acordo com a
natureza de cada conflito”.
Introdução
Podem os corpos serem encarados sob dois aspetos: como seres
isolados uns dos outros, ou como agindo real, ou virtualmente, uns sobre
outros, No primeiro caso, supõe-se nenhuma dependência existir entre eles; no
segundo, consideram-se-Ihes as relações recíprocas,
A terceira lei basilar da
mecânica geral, formulada por Huyghens e Newton, com a generalização proposta
por A. Comte. Mas a lei de Newton emprega a palavra igualdade, em vez de
equivalência, e assim se enuncia: Fui
sempre igualdade entre a reação e a ação. Veremos em seguida a razão do uso
desses dois vocábulos.
Por afirmar que a
reciprocidade das forças é caracterizada pela sua equivalência, a lei da
mutualidade chama-se também lei da equivalência,
Foi dada a primeira denominação
por Teixeira Mendes e a segunda por Pierre Laffitte.
Para nos convencermos da
lei da equivalência, basta examinarmos, de relance, os conflitos da matéria
morta e viva, dos corpos brutos e organizados, dos seres físicos, vitais,
saciais e Moraes ou psíquicos,
Física - Entre os fenômenos físicos, o choque e
o atrito demonstram imediatamente o princípio.
Foi na apreciação da
teoria do choque dos corpos elásticos e não elásticos, que os dois grandes
geômetras descobriram por indução, essa grande lei mecânica. Com efeito,
fazendo chocarem-se esferas iguais que rolam sobre um plano, diminuindo quanto
possível, a resistência ao rolamento, notaram que a esfera chocante perde parte
da velocidade, parte essa sensivelmente igual ao aumento de velocidade da
esfera chocada. Quando a esfera chocada está em repouso, a velocidade que
recebe corresponde à perdida pela esfera chocante.
Daí, concluírem que a
esfera chocada, quer em movimento, quer em repouso, reage contra a esfera
chocante, reação medida pela perda de movimento. Em resumo, o que uma perde em
velocidade, ganha a outra também em velocidade; há, portanto, igualdade, razão por
que, no enunciado mecânico, se deve dizer que há sempre igualdade entre a ação
e a reação.
Os preconceitos antigos,
e até os do moderno academismo, a despeito dos trabalhos de Newton, Leibniz,
Diderot e Augusto Comte, afirmavam que a matéria era essencialmente passiva, ou
inerte, e que a reação, a que se refere a lei mecânica, se deve à própria
inércia da matéria, confundindo essa inércia com a lei da persistência.
Aristóteles, nos seus
imperecíveis escritos, sustentava a atividade espontânea da matéria, embora a
considerasse em estado de simples potência. De fato, a única atividade efetiva
que se apresentava à observação, naquela época, era o peso dos corpos, que ele
atribuía à “apetência” dos corpos graves para o centro do Mundo, sem todavia
poder verificar que nessa atração há reciprocidade, isto é, que os corpos na
Terra atraem o próprio Mundo. Podemos ver porém, que a radioatividade,
descoberta pelos trabalhos sucessivos de Becquerel, do casal Curie e de outros
físicos, revela a atividade da matéria, não só estática como dinâmica.
Um corpo atritado reage
pelo desenvolvimento do calor, pela atração dos corpos leves, conforme a
natureza do corpo atritante e do corpo atritado. Quando um ácido atua sobre uma
base, formando um sal, há alteração de temperatura e desenvolvimento de eletricidade.
Essas experiências e muitas outras revelam a atividade da matéria, em estado
estático. Mas o peso e a radioatividade nos mostram a atividade continua da
matéria.
Os grandes cientistas,
desde o fim do século XVIII, forçaram-se por medir as várias espécies de reação
da matéria, porque não há só uma reação, há diversas. Foi assim que Lavoisier e
Laplace, associados, procuraram a medida do equivalente mecânico do calor.
A má interpretação da
perfeita equivalência entre ação e reação, de acordo com a lei de Newton e a
própria lei de Kepler, fez o academismo criar uma concepção puramente
metafísica: o famoso principio da energética.
Química
- A reação química, de
um ácido sobre um metal, produz reações diferentes, entre as quais, urna, a
eletricidade, por exemplo, que transmitida a um dínamo, produzirá movimento de
rotação; esse movimento de rotação, transmitido, segundo as leis da cinemática, transformar-se-á em
movimento alternativo; esse movimento alternativo aplicado sobre determinado
corpo, provocará várias reações, entre as quais o calor; esse calor,
devidamente aproveitado e aplicado reproduzirá a corrente elétrica primitiva. Daí,
concluir o academismo que existe uma entidade metafísica, denominada energética, com a qual procura explicar
a conservação da energia.
Conhecidas a lei de
Newton e a de Kepler, e as suas generalizações, esses fenômenos se tornam de
fácil compreensão e permitem reconhecer a fantasia metafísica da energética. A
lei de Kepler assinala a persistência da ação, direta ou indireta, isto é, a
ação propriamente dita, ou reação. A lei de Newton mostra, não a igualdade, mas
a equivalência entre a ação e as diferentes reações. Dada a atividade da
matéria, é fácil, então, compreender como uma das reações, aplicada sobre outro
corpo, ou sistema de corpos, vai provocar outras reações, permitindo o
aproveitamento de uma delas, para outras aplicações.
Sadi-Carnot, pai do
malogrado Presidente da República francesa, no começo do século retrasado,
utilizou maravilhosamente esse fenômeno, criando um corpo de doutrina, denominado
termodinâmica, base da concepção teórica da máquina a vapor. Do mesmo modo,
aproveitando a corrente elétrica proveniente de reações provocadas na matéria,
os eletricistas criaram doutrina semelhante, denominada eletrodinâmica para a
aplicação mecânica da eletricidade. Eis aí dois corpos de doutrina,
intermediários entrem a física e a mecânica;ciências e a mecânica prática, e arte.
Tudo isso revela a atividade espontânea da matéria, vislumbrada pelo gênio de
Aristóteles e sistematicamente negada pelos cientistas antigos e modernos, até
Newton e Leibniz.
Utilizando a linguagem
peripatética do pasmoso pensador grego, a matéria possui dois gêneros de
atividade: um em estado potencial, outro, em ação. O calor, a eletricidade, a
sonoridade, a luminosidade, etc., estão em potência; o peso, as propriedades
radiantes, e outras, estão em constante atividade dinâmica.
Antes de encerrarmos este
assunto especial, é preciso esclarecer um ponto, devido ao gênio filosófico de
Descartes, que ficaria desmerecido com estas considerações. O criador da
geometria geral e fundador da filosofia matemática estabeleceu a inércia da
matéria como lei básica, ao mesmo tempo que Glisson ( )
descobridor da contratilidade da fibra muscular, proclamou a atividade
espontânea da matéria. E’ que Descartes, de acordo com o hábito dos geômetras
de seu tempo, confundia a inércia da matéria com a sua persistência estática,
ou dinâmica. Essa confusão só foi esclarecida depois que Kepler descobriu a lei
fundamental do movimento: Qualquer movimento é naturalmente retilíneo
e uniforme, isto e, qualquer corpo persiste espontaneamente em repouso, ou em
movimento. Essa lei foi impropriamente chamada de lei da Inércia. Mas,
ainda assim, os geômetras continuaram a chamar de inércia a lei da
persistência.
A atração que o sol
exerce sobre os planetas já era conhecida pelos astrônomos do século XVII, mas
a reciprocidade de ação, e a lei que a rege, foi descoberta pelo gênio do
geômetra britânico. Dessa lei decorre toda a mecânica celeste, cuja elaboração
se deve ao famoso geômetra, mas completada pelos trabalhos de Euler, D´ Alembert,
Lagrange, Clairaut, Laplace, e outros. Os trabalhos de Galileu e Newton
introduziram, na mecânica, a noção de massa. Anteriormente, a mecânica estava
limitada a simples movimentos geométricos para usar a linguagem de Lázaro
Carnot, ou à cinemática, na linguagem moderna. Mas o que os engenheiros hoje
chamam cinemática é a própria mecânica geral, simplificada pela supressão da
idéia de massa, e aplicada às máquinas.
A generalização da lei de
Newton, na física, e conseqüentemente na astronomia, em se tratando de mecânica
celeste, obriga a uma digressão, no domínio da mecânica geral.
Há três noções importantíssimas
que a anarquia intelectual dificilmente permite distinguir são as noções de substância, matéria
e massa. Para bem perceber a distinção, é necessário ter em vista
que, em nossos trabalhos intelectuais, fazemos abstração em diversos graus.
Assim, determinadas idéias são mais abstratas do que outras, também abstratas;
outras há, ainda mais abstratas do que as formadas em segundo grau de
abstração, e assim por diante.
Quando consideramos a
água, o ferro, o ar, o mármore, o chumbo, o granito, isto é, o que deparamos no
meio natural, formamos um primeiro grau de abstração, designando indistintamente
tudo pela palavra substância.
Mas, essa substância,
além dos atributos específicos, tem propriedades gerais, comuns, posto que em
graus diferentes --- as propriedades exclusivamente físicas. Encaradas, apenas,
sob esse aspecto recebem, por generalização, o nome de matéria. E’ o segundo grau de abstração, tão necessário
ao estudo da física, quanto o primeiro — o de substancia — é para a química.
Fazendo inteira abstração
das propriedades específicas da substância e reais da matéria, admitindo a
substância e a matéria inteiramente inertes, chega-se ao terceiro grau de
abstração, à concepção que, em mecânica geral, se denomina massa. Essa noção de
massa aparece naturalmente na mecânica, quando se reconhece que tudo quanto
existe, exige força para mover-se, seja pedra, água, ou ar, seja animal,
vegetal, etc.
Por esse motivo, os
geômetras definiram massa de varias maneiras: é tudo aquilo que exige força
para mover-se; é a matéria inerte; é o espaço efetivo que o corpo ocupa. Dessa
exposição se deduz que substância, matéria e massa não existem objetivamente,
mas apenas subjetivamente; são tipos abstratos em graus diversos. A ciência
moderna, inteiramente emancipada dos preconceitos acadêmicos, admite a matéria
essencialmente ativa, e a massa completamente inativa ou inerte.
A mecânica, bem como
outras partes das ciências, foi tratada positivamente pela espontaneidade
popular, embora sem precisão, que só se obtém graças à concepção abstrata e
sistemática. As noções mecânicas de velocidade e quantidade de movimento
constituem exemplo bem claro. Todo o mundo tem a idéia de velocidade, intimamente
ligada às de espaço e tempo. Diz-se que um ponto material, ou um corpo de qualquer
dimensão, se move com maior velocidade do que outro, quando percorre maior
espaço no mesmo tempo. Quando alguém pretende introduzir um prego na madeira,
por meio da percussão com o martelo, e não consegue, experimenta, naturalmente,
imprimir maior velocidade ao martelo. Se, com casa alteração, não consegue o
desejado, faz nova modificação, aumentando a massa do corpo chocante, isto é,
usando martelo maior. Surge, desse modo, a noção espontânea de quantidade de
movimento, de choque, e de força de ação. Percebemos que esse choque, ou essa força
(F), age proporcionalmente à velocidade (v) e à massa (m) . Dela decorre, por considerações
abstratas, a definição precisa de
quantidade de movimento, sintetizada na fórmula: F = mv.
A distinção entre
velocidade e quantidade de movimento, mostra que, nos agentes físicos, devemos
distinguir a intensidade do agente, e a quantidade de ação. Neste caso a
intensidade do agente é a velocidade, e a quantidade de ação e representada
pela quantidade do movimento, isto é, pela quantidade de massa em movimento.
Na barologia, isto é, no
estudo do peso, a intensidade da gravidade seria sempre a mesma, se a terra não
tivesse movimento de rotação, mas a forma esférica do nosso planeta, aumentando
o raio de rotação, dos pólos ao equador aumenta a intensidade da força
centrífuga, que age em sentido contrário, diminuindo o peso dos corpos. Assim,
para termos o valor próprio do peso (p) de cada corpo, é necessário multiplicar
sua massa (m) pela intensidade da gravidade (Aceleração da Gravidade)
(g): p = mg. Devemos, portanto, distinguir a intensidade da gravidade e a
massa.
No domínio da termologia,
precisamos igualmente distinguir a intensidade do calor, que se denomina
temperatura, da quantidade de calor, que é o produto da massa do corpo aquecido
pela temperatura. Certa porção de fluído, em determinada temperatura, pode não
produzir o mesmo trabalho que maior quantidade dessa massa fluída, em
temperatura mais baixa. Isso se verifica, facilmente, nas caldeiras. Em
acústica, distinguimos bem a intensidade do som da quantidade do som, que se
denomina altura. No campo da ótica, distinguimos igualmente a intensidade da
luz da quantidade de luz. Duas esferas luminosas, uma pequena, com intensidade
luminosa muito grande, e outra com luminosidade menos intensa, mas de maior
superfície, produzem efeitos diferentes.
Em eletricidade, a técnica
distingue intensidade elétrica de quantidade de eletricidade. Uma pilha
elétrica produz corrente elétrica de certa intensidade; uma bateria de pilhas,
da mesma espécie, produz maior quantidade de eletricidade, mas da mesma
intensidade. Essa intensidade depende da energia própria do fenômeno gerador,
que será químico no caso da ação de um ácido sobre um metal. A mesma consideração
pode ser feita relativamente à ação atrativa da massa da terra sobre os
diversos corpos que caem. Quando observamos a queda de um grande bloco de
pedra, ao mesmo tempo em que a de um pequeno fragmento destacado do bloco de
papel, deve reconhecer que a ação da gravidade,
isto é, a sua intensidade, é a mesma; no vazio, todos os corpos caem com a
mesma velocidade, como verificou Galileu. A grande diferença, que se nota no
fenômeno, manifestada claramente pelo choque, resulta da quantidade de
movimento, isto é, a mesma velocidade multiplicada por massas diferentes.
O que Galileu verificou na
queda dos corpos sobre a terra, Newton descobriu na gravitação universal: a
ação do sol, sobre planetas de massa diferente, mas a igual distancia dele, é a
mesma, isto é, todos seriam atraídos para o sol com a mesma velocidade.
Passando-se da física para
a química, sentimos logo a importância da noção de ação e reação, e, meditando
mais profundamente, percebemos que a reação não é propriamente igual, mas
equivalente à ação. Quando um ácido ataca um metal ou uma base, a base e o
metal reagem. A reação consiste na combinação do agente com o reagente,
formando nova substância. O ácido clorídrico, atuando sobre o nitrato de prata,
provoca reação, da qual resultam novos compostos: a prata com o cloro forma o
cloreto de prata, e o hidrogênio, do ácido clorídrico, com o nitrogênio e o
oxigênio, formam o ácido nítrico. Há, portanto, equivalência entre a ação e a
reação, como será fácil verificar.
Quando um ácido, formado
de duas substâncias, como o ácido clorídrico, ataca um metal, como a prata, a
reação só termina quando todo o cloro atacou a prata, se houver prata em
excesso, ou toda a prata reagiu sobre a parte correspondente de cloro, ficando intato
o excesso de ácido clorídrico.
As reações químicas são
acompanhadas de fenômenos físicos, também equivalentes. Há desprendimento de quantidade
de calor equivalente, ou, pelo contrário, absorção de calor, ocasionando baixa
equivalente de temperatura. Esse fenômeno inspirou interessantíssima obra de
Berthelot, a Mecânica Química, na qual procura determinar a quantidade de
calor, absorvida, ou desprendida em cada reação química. O mesmo acontece com a
eletricidade. Cada reação química ocasiona a produção de certa quantidade de
eletricidade, cuja intensidade depende da natureza dos elementos em conflito.
Baseado nesse fenômeno, foi que se construiu a pilha elétrica.
Tanto o calor como a
eletricidade, devidamente aplicados, produzem fenômenos mecânicos, isto é,
podemos construir máquinas motrizes, utilizando o calor, ou a eletricidade. Uma
substância fluida contida em vaso fechado e aquecida, dilata-se e comprime as paredes
do vaso. Se um dispositivo mecânico permitir que certa porção da parede do vaso
se desloque e volte à posição primitiva, haverá movimento de vai e vem, que se
pode transformar, segundo os ditames da Cinemática. E’ o caso do movimento
alternativo do êmbolo transformar-se em movimento circular contínuo. A corrente
elétrica atuando sobre um sistema de peças de aço, determina movimentos
retilíneos de atração, que constitui a mais antiga máquina elétrica. Em sentido
contrário, um movimento mecânico provocando a rotação de um sistema de ímãs, ou
peças imantadas, produz corrente elétrica, a qual, como acabamos de mostrar,
pode reproduzir movimento mecânico. Em todos esses fenômenos, observa-se a
perfeita equivalência entre a ação e a reação, conforme a lei de Newton.
Não menos explícitos os resultados
provenientes dos conflitos vitais.
Basta considerar a troca
de operações entre o mundo vivo e o mundo inorgânico. De um lado, a ação do
Sol, do ar, da água, do solo sobre as plantas e os amimais, e do outro, a reação
das plantas e dos amimais sobre o meio sólido, líquido e gozoso, quer
terrestre, quer celeste.
Biologia - A generalização da lei de Newton
adquire máxima importância, em biologia. Quando qualquer ação, física ou
química, é exercida sobre um organismo vivo, vegetal ou animal, que provoca reações
mais numerosas do que sobre um corpo inanimado, e, quanto mais numerosas, tanto
mais complexa é a vida do ser. Essa atuação pode ocasionar duas espécies de
alterações: a da composição dos tecidos vivos do organismo, ou apenas a do
funcionamento dos órgãos. Em outras palavras, podemos dizer que a reação pode
ser anatômica, ou fisiológica. Em ambos os casos, o conjunto do ser reage,
restabelecendo, ou tentando apenas restabelecer a integridade do ser, ou das
suas funções.
Quando se encerra uma planta,
em meio escuro, o seu desenvolvimento acusa, em breve, a falta da excitação luminosa
nos fenômenos químicos da renovação orgânica: a função do metabolismo da
clorofila diminui e a planta se atrofia:
sua coloração própria, de verde passa a amarela esbranquiçada. Os botânicos
fizeram várias experiências sobre o efeito da modificação de outros fenômenos
físicos, como o calor, a eletricidade, o peso, pelo desenvolvimento da força
centrífuga, etc. A própria natureza revela as modificações que o organismo
vegetal apresenta, sob a influência dos agentes naturais do globo, conforme as
latitudes. Tais influências dão lugar a profundas diferenças na vegetação, e o
seu estudo constitui o conjunto de conhecimentos denominado geografia botânica.
As reações dos vegetais
aos agentes externos manifestam-se pelo mesmo fenômeno, segundo o qual se
observa o desenvolvimento natural dos vegetais: a fermentação.
Entende-se por fermentação
dois fenômenos diferentes: um puramente químico, outro fisiológico. Ao primeiro
Béchamp denominou fermentação não figurada; ao segundo, figurada.
A fermentação não figurada
consiste na atuação de uma substância simples, ou composta, sobre outra, sempre
composta, modificando a composição imediata, por alteração de um ou mais
radicais. Exemplo bem característico dessa alteração é a modificação que a enzimática
produz, transformando o amido em glicose; a da água sobre o açúcar,
desdobrando-o em glicose propriamente dita, ou dextrose, e levulose. Antes da
inversão, o açúcar é cristalizável, depois de invertido, perde essa
propriedade; antes de inverter-se, a solução de açúcar é dextrógera e não reduz
o licor cupro-potássico, depois de invertida, tornando-se levógera, reduz esse
licor. Quando a enzima atua sobre a gordura, saponificando-a , denomina-se lípase.
A fermentação figurada é a
alteração química que pequenos seres vivos, os microorganismos, que operam no meio líquido especial em que se
acham imersos. O tipo dessa fermentação é o efeito da levedura de cerveja sobre
uma solução açucarada. Absorve a glicose e excreta álcool, gás carbônico e
outras substâncias. Astier ( ) e Turpin ( ) supuseram que a levedura absorvia, apenas,
parte do oxigênio do açúcar, desarticulando, a molécula, que se desdobraria em
álcool, gás carbônico e outras substâncias. Mas Béchamp demonstrou que tais
substâncias são produzidas dentro do organismo da levedura ou micro organismos.
E mais tarde no ciclo de Krebs, Sir Hans Adolf (1900-1981), bioquímico
britânico de origem alemã. Em 1953, dividiu com Fritz Lipmann o Prêmio Nobel de
Medicina e Fisiologia. Pesquisou a química dos processos corporais e
desenvolveu o chamado ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico e demonstrou
todo o metabolismo dentro da levedura.
As reações dos vegetais
operam-se, apenas, por efeito de fermentações porque lhes falta o aparelho
nervoso. Nos animais, as reações são muito mais numerosas e variadas, porque,
além das fermentações, atua o sistema nervoso.
Considerando somente as
reações dos tecidos, notamos que elas se processam in loco, ao passo que as do aparelho
nervoso se dão em pontos diferentes, em tecidos diversos, afetando vários
órgãos. Para compreender essa reação, é mister ter em vista os dois sistemas
nervosos: o central e o grande simpático. O sistema central tem como sedes o cérebro
e a medula espinhal; o grande simpático é formado por um conjunto de gânglios,
ligados entre si por pequenos nervos que se entrelaçam com os do sistema
nervoso central, espalhando-se por todos os órgãos da vida vegetativa.
Essa distribuição explica
a conexidade de todos os órgãos e aparelhos da vida orgânica e animal, e por
ela se compreende a unidade do ser animal, apesar das suas numerosas e variadas
complicações. A reação que se nota no ser vivo, mormente animal, não é apenas a
reação peculiar à matéria, é também a reação dos variados elementos ligados
entre si. Essas ligações explicam o grande aforismo de Hipócrates — no organismo, tudo concorre, tudo conspira,
tudo consente — donde a unidade
geral.
Sociologia – Pode dizer-se que a vida, consistindo
essencialmente no duplo movimento de absorção e de exalação entre o organismo e
o meio, não é mais que a ação recíproca de um sobre outro, que esta ação,
devidamente estudada, comprova sempre a equivalência dos atos em conflito.
Não menos verdadeira é a equivalência
entre as ações e reações saciais. A história da Humanidade sobejamente o prova.
Em todos os lugares e em todas as épocas observa-se perenemente que há uma
relação de igualdade, ou melhor de equivalência, entre as tiranias e as
revoluções. Para não citar numerosos outros casos, basta recordar a reação
sangrenta da burguesia francesa contra os algozes da aristocracia e da realeza,
e a reação desabalada do proletariado russo contra o despotismo do regime
czarista. São exemplos típicos da lei da mutualidade nos conflitos saciais
essas duas revoluções: a Revolução Francesa e a Revolução Russa. Não tivesse
havido a ação tirânica dos opressores, não teria havido a reação desordenada dos
oprimidos.
Com os organismos vivos, que constituem
seres sociáveis, formam-se seres coletivos, cuja existência os antigos romanos
já haviam percebido: as legiões, as coortes, etc. Hoje, reconhecemos a
existência social de diversas outras coletividades, além da Família: a Tribo, a
Pátria, a Raça, a Sociedade, e finalmente a Humanidade. Cada um desses seres
tem existência caracterizada por atributos próprios, por transformações, por
evolução, oferecendo reações perfeitamente equivalentes às ações que sobre ele
se exercem, reações conscientes e inconscientes. Graças a essa vitalidade
coletiva e a tais reações, é que o governo, não só espiritual, mas ainda
temporal, atua.
Apens uma coletividade
não é governada, porque soberanamente, domina todas as outras conforme as leis
naturais a Humanidade.
Moral
– a vida moral ou psíquica, ainda a mesma lei.
Quando a alma ou psique ofendida revida a ofensa, ora invocando o poder social
para punir o ofensor, ora tomando por si mesmo a desforra, observa a regra
invariável da reciprocidade: exerce reação equivalente à ação.
A cada passo, em todas as
manifestações da vida social ou psíquica, como em todas as fases da existência
cósmica, sempre se nos depara a realização do grande princípio. A só diferença
a notar é que a equivalência matemática precisa, das ações e reações, nem sempre
se pode determinar, dada a natureza muito complexa das forças em causa.
Encontramos bem patente a
lei da reação. Os embates do homem, na vida social, mostram a todo o momento
reações morais, provocadas por influências externas, também morais e até
materiais.
Graças à reação e à
equivalência entre ela e a ação, nos organismos individuais, ou coletivos, se
constituíram as artes mais eminentes: a medicina, a política e a educação.
Nessas artes, é preciso levar ainda em conta a lei da persistência, sob a
denominação de hábito. Notamos, em medicina, o hábito, sob nomes diferentes: o
hábito da sensação, arrastando o organismo para o bem ou para o mal, para a
saúde ou para a doença. O hábito em Sociologia, o espírito conservador, pode
também produzir a desordem, a anarquia. No domínio da moral, o hábito na
prática do bem, produz a virtude, e do mal, cria o vicio.
Essa mesma consideração
indica o meio de corrigir os maus hábitos, quebrando a continuidade do
fenômeno. Assim agem os médicos, corrigindo as diáteses, os estadistas, fazendo
desaparecer os maus costumes e os. educadores, eliminando os vícios. Deste
modo, as três grandes artes empregam processos opostos para criar e desenvolver
hábitos que convêm à existência individual e coletiva e, para interromper a
continuidade dos nocivos.
Essas sumárias
considerações mostram a grande importância da lei de Newton, observada,
primeiramente, nos fenômenos mecânicos e astronômicos, com a precisão que lhes
é peculiar, e generalizada aos fenômenos cada vez mais complicados das outras
ciências, até a moral.
Assim, num conflito social
ou moral é difícil, senão impossível, avaliar numericamente a intensidade das
ações e reações, ao passo que num conflito mecânico calcula-se com a máxima
precisão a grandeza dos atos recíprocos. Mas a falta de precisão não tira o
caráter de certeza à lei da reciprocidade. Em todos os casos, desde os mais
simples até os mais complicados, há sempre um coeficiente, real ou virtual, que
mede com mais ou menos precisão, a intensidade dos conflitos.
Assim como o esforço
empregado para elevar certo peso a certa altura, corresponde a determinada
quantidade de calor, e constitui o equivalente mecânico do calor; certo esforço
do organismo vegetal, animal, social ou individual, reagindo a certa ação de qualquer
fenômeno, constitui o equivalente orgânico desse fenômeno.
Na sua forma mais acabada
e precisa, a lei da mutualidade reduz-se a determinar os coeficientes das ações
recíprocas; achar os equivalentes que definem numericamente a intensidade dos conflitos.
Mas preciso ou não, é
sempre certa a relação de equivalência entre as ações e reações, qualquer que
seja a natureza dos conflitos. Elas sempre
verdadeiras a lei da mutualidade, ou 12º princípio de Filosofia Primeira. Elas são construídas
pelo cérebro, como todas as outras, possuindo o cunho da subjetividade, as leis da persistência, da coexistência e da
mutualidade, são entretanto, essencialmente objetivas, porquanto não
regulam atributos Internos, operações do entendimento, mas fatos externos,
fenômenos do mundo. São as mais objetivas da Filosofia Primeira. Esse caráter
de objetividade ressalta Imediatamente do seu enunciado, por onde se vê que
elas regem o equilíbrio, a compatibilidade e a ação recíproca dos seres
exteriores, através das propriedades que os definem. Por Isso mesmo, na sua
fôrma primitiva, quando eram apenas teoremas fundamentais da mecânica racional,
do estudo sistemático do movimento, receberam a denominação que lhes deu
Augusto Comte, de leis físicas, isto é, leis concernentes à naturezas cósmicas,
relativas ao mundo.
A harmonia dessas leis é, talvez, a mais
completa que reine entre os termos de cada uma das cinco séries ternárias em
que se subdivide a Filosofia Primeira; pois todas se prendem a fenômenos
inteiramente ligados, ao concurso de forças que persistem, coexistem e se
comunicam, sejam cósmicas, ou vitais, sociais ou psíquicas.
.
Com maiores detalhes podemos a seguir analisar
esta lei tão importante.
1 – A LEI DA AÇÃO E DA REAÇÃO
- A lei Mecânica de Newton. A lei da ação e da reação foi
para os fenômenos mecânicos, induzidos por Isaac Newton (1643 – 1729),
baseada nos trabalhos de Christiaan Huyghens (1629 - 1695), e
sistematizada por Augusto Comte (1798 – 1854).
Assim como as outras duas leis deste
grupo, já estudadas, a da ação e da reação foi originalmente apreciada dentro
do domínio exclusivo da Mecânica. Essas três leis, que constituem a base
indutiva da mecânica geral, foram por Augusto Comte primeiro sistematizadas
nesse próprio domínio matemático, depois aplicadas ao estudo da Sociologia e
enfim generalizadas completamente de modo a formarem leis universais da
Filosofia Primeira.
A primeira lei ocupa-se dos estados estáticos
e domínios de cada ser, independentemente de outras existências; a segunda dá-nos
a conhecer as influencias recíprocas que exercem entre si os elementos ligados
para constituir um sistema.
A terceira lei, cujo estudo esta agora
ocupando nossa atenção, refere-se a influencia que pode exercer uma existência
sobre outra que lhe seja independente. O estudo inicialmente realizado sobre
esse assunto, principalmente por Huyghens, e que se refere à ação mecânica que
um corpo em movimento exerce sabre outro, deu lugar a lei que Newton, em 1687,
assim enunciou: "a ação é sempre igual e oposta a reação,
isto é, as ações de dois corpos, um sobre o outro, são sempre iguais e em direções
contrarias".
Augusto Comte em 1830, no primeiro
volume da Filosofia Positiva, apreciando a base objetiva da mecânica geral,
examina a lei de Newton para sistematizá-la, melhorar, tornar em geral aplicável
a todo o domínio da mecânica. E' da Filosofia Positiva o seguinte sobre a lei
da ação e da reação: "Consiste (a lei de Newton) no principio da igualdade
constante necessária entre a ação e a reação, isto é, que todas as vezes que um
corpo é movido por outro de um modo qualquer, exerce sabre esse outro, em
sentido inverso, uma reação tal que o segundo perde, na razão das massas, uma
quantidade de movimento exatamente igual a que o primeiro recebeu". Augusto
Comte, Cours de Philosophie Positive, vol. I, pág. 460.
Na apreciação mecânica da lei da ação e
da reação tomamos, pois, conhecimento das noções não somente de ação e de reação,
mas também de massa e de quantidade de movimento.
Em qualquer domínio, não só entre os fenômenos
de matemática, como também nos de física e de moral, a ação corresponde sempre
uma reação equivalente e em sentido contrario, isto é, sempre que e exercida
uma ação de qualquer natureza, essa ação provoca outra, em sentido contrario,
que toma o nome de reação.
Manifesta-se a reação em mecânica, como
a lei o indica, na razão das massas, e é medida pela quantidade de movimento.
E' a massa a expressão material do corpo e a quantidade de movimento o produto
dessa massa pela velocidade, isto é, pelo espaço percorrido na unidade de
tempo.
- A generalização da lei. A décima segunda lei de Filosofia
Primeira foi induzida por Augusto Comte, generalizando a lei mecânica de
Huyghens e Newton, e assim enunciada: "Existe par toda parte uma equivalência necessária entre a reação e
a ação, se a intensidade de ambas for medida conforme a natureza de cada
conflito".
A extensão da lei mecânica aos fenômenos
sociais permitiu que Augusto Comte logo a seguir generalizá-la completamente de
modo a constituir a terceira lei do grupo mais objetivo da Filosofia Primeira.
Em 1842, no sexto volume da Filosofia
Positiva, é feita a completa generalização da lei da ação e reação; e induzida
assim, a décima segunda lei de Filosofia Primeira, depois sistematicamente
formulada em 1854 no quarto volume da Política Positiva.
Diz Augusto Comte na Filosofia:
"Quanto a nossa terceira lei fundamental do movimento,
aquela que devo atribuir a Newton e que consiste na equivalência constante
entre a reação e a ação, sua universalidade necessária é ainda mais sensível
que para as outras duas; é a única, com efeito, da qual tenha sido entrevista,
embora de modo muito confuso e insuficiente, a extensão espontânea a toda a
economia natural. Embora se conceba sempre a natureza e a medida das reações
segundo o verdadeiro espírito dos fenômenos correspondentes, e fora de duvida
que tal equivalência pode ser também realmente observada em relação aos efeitos
físicos, químicos, biológicos e mesmo políticos, como nos simples efeitos mecânicos,
ao menos no grau de precisão compatível com as condições do assunto". E logo adiante: "A
intima solidariedade contínua que caracteriza os fenômenos vitais, e ainda
melhor os fenômenos sociais, onde todos os aspectos mostram-se espontaneamente
conexos, e sobretudo muito próprio a familiarizar-nos com a universalidade
efetiva desta terceira lei do movimento, assim extensiva doravante a toda a
mudança qualquer. Cada uma das três grandes leis naturais sobre as quais
reconhecemos, apesar das graves aberrações filosóficas dos geométricas atuais,
que repousa necessariamente 0 conjunto da mecânica racional, não é, pois, no
fundo senão a manifestação mecânica de uma lei geral, igualmente aplicável a
todos os fen6menos possíveis".
Auguste Comte, Cours de Philosophie Positive, Vol. VI, pag. 743/744.
- A Ação e Reação. A apreciação da décima segunda
lei exige preliminarmente que se faça a distinção, em cada caso, entre a ação
e a reação.
A ação é como vimos proveniente do
exterior e tende a modificar o estado estático ou dinâmico de uma existência.
A lei da ação e reação para ser
verificada requer a presença de duas existências, que entram em conflito. A primeira
realiza a ação inicial que por sua vez dá lugar a uma segunda ação, equivalente
e em sentido contrario, a reação, produzida pela segunda existência.
Vejamos, por exemplo, no domínio mais
simples da mecânica, a distinção entre a ação e a reação. Newton,
exemplificando a lei, diz:
"Todo corpo que comprime ou puxa um outro corpo e
puxado ou comprimido por esse outro. Se comprimirmos uma pedra com o dedo, o dedo
é comprimido ao mesmo tempo pela pedra. Se um cavalo puxa uma pedra por' meio
de uma corda, ele é igualmente puxado pela pedra: porque a corda que os liga e
que é estirada dos dois lados, faz um esforço igual para puxar a pedra para o
cavalo e o cavalo para a pedra; e este esforço se opõe tanto ao movimento de um
como excita o movimento do outro". Lido
em: J. Eulálio, Mecânica Geral, vol. I,
pag. 43.
No primeiro desses exemplos o corpo que
comprime ou puxa esta exercendo a ação e provoca como reação a compressão ou o
movimento do outro corpo; no segundo exemplo o dedo exerce a ação, e a reação e
exercida pela pedra sobre o dedo; no terceiro exemplo o cavalo exerce a ação,
sendo a pedra o elemento ao qual cabe produzir a reação.
Assim como nos exemplos mecânicos, também
na Física e na Moral podemos sempre distinguir a ação produzida e a conseqüente
reação. Ao exemplificarmos a seguir em cada um dos graus enciclopédicos, para
demonstração da lei, teremos oportunidade de verificar em cada caso a ação e a
reação.
E', portanto, a lei da ação e da reação àquela
que preside de um modo geral todo o exercício de nossa atividade. Modificar o
mundo para adaptá-Io as conveniências do homem e este para aperfeiçoá-lo cada
vez mais, é o objetivo da Filosofia Terceira. A Indústria, a Política e a Educação regulam respectivamente as
modificações do mundo, da sociedade e da natureza humana. Tais modificações são obtidas sempre por meio de
ações sistemáticas a fim de darem lugar a reações previstas.
- A equivalência entre a ação e a reação. 0 enunciado de Newton para a lei mecânica
estabeleceu a igualdade entre a ação e a reação.
Não existe, entretanto, tal igualdade,
nem mesmo no domínio matemático, pois a ação e a reação apresentam-se sempre,
como esclareceu Augusto Comte, proporcionais as massas. Há, portanto, equivalência
e não igualdade e tal equivalência é relativa as massas dos corpos que entram
em conflito.
Dois corpos podem apresentar-se, por
exemplo, com o mesmo volume, porem com massas muito diferentes. Depende a massa
da estrutura molecular do corpo e é, em um mesmo lugar, proporcional ao peso
sem se confundir com este. Enquanto o peso é diverso conforme a situação em que
se verifica, variando na superfície da Terra com a latitude e a altitude, a
massa conserva-se sempre a mesma. Como o peso, obtém-se pela balança a medida
da massa; para o peso fornece-nos a balança resultados variáveis conforme o lugar
da Terra; a medida da massa é invariável, por isso que corresponde a uma relação
entre dois pesos medidos no mesmo lugar.
Na mecânica as medidas da ação e da reação,
iguais, correspondem as quantidades de movimento perdida e ganha. Essas
quantidades de movimento são representadas pelo produto da massa de cada corpo
pela respectiva velocidade, isto é, pelo espaço percorrido na unidade de tempo.
Há igualdade, portanto, entre a ação e a reação, se reduzirmos sua medida as
quantidades de movimento.
- A medida da ação e da reação. Na medida da intensidade da ação e
da reação é preciso considerar-se que em grande número de casos não é possível
à expressão numérica dessa medida por falta de precisão da unidade
correspondente, principalmente nos fenômenos mais nobres e mais
complicados.
Traduzida pela quantidade de movimento é
a medida da ação mecânica, assim como a da reação, facilmente suscetível de
representação numérica. Ao passo, porém que aos subirmos a escala dos fenômenos,
vamos apreciando gradualmente um acréscimo de dificuldades para essa expressão numérica,
que se torna de todo impossível nos domínios mais elevados, principalmente na
Sociologia e na Moral.
A impossibilidade de a medida ter, em
muitos casos, uma expressão tão simples e exata como a numérica, torna mais difícil
a comparação entre os dois elementos resultantes do conflito, a ação e a reação.
A medida precisa nos domínios mais simples e a apreciação sintética nos domínios
mais complexos permitem, entretanto, verificar-se a equivalência entre esses
dois elementos. Como no fenômeno mecânico já não apreciamos uma igualdade
direta, por isso que sendo diversas as massas dos dois corpos que entram em conflito,
também diferentes serão as velocidades antes e depois do choque, a fim de que
se verifique a equivalência através da igualdade nas quantidades de movimento.
Se os resultados diretamente apreciados
fossem iguais, se no fenômeno mecânico houvesse igualdade, por exemplo, das
massas ou das velocidades, muito mais fácil seria a verificação da lei, não só
no domínio da mecânica como em todos os outros mais complexos. A idéia de equivalência,
substituindo a igualdade, vem atenuar essa dificuldade tornando a lei, alem
disso aplicável a todos os casos em que há diferença de natureza entre ação e
reação.
- Natureza da ação e da reação. Nem sempre a ação provoca uma reação
da mesma natureza; donde resulta a necessidade da apreciação dos
equivalentes.
Quando a ação é representada por um
movimento, como no caso da aplicação da lei a mecânica, e a reação produzida é também
de movimento, são iguais, como vimos, nas quantidades de movimento produzidas
na ação e na reação.
Pode, entretanto ao movimento que
representa a ação corresponder uma reação de natureza diversa. Quando, por
exemplo, por meio de uma ação mecânica ou física qualquer, sejam dos ventos, ou
da água em movimento, ou da expansão do vapor pelo aquecimento; produzimos o
movimento de um dínamo gerador de eletricidade, estamos provocando, por meio de
uma ação de natureza mecânica, a reação manifestada pela corrente elétrica
gerada. Quanto maior a ação produzida tanto maior será a intensidade da reação
representada pela corrente elétrica. Há nesse caso sempre uma equivalência
entre a ação mecânica ou física e a conseqüente reação elétrica. Da mesma forma
com todos os fenômenos físicos em geral observamos diversidade de natureza
entre a ação e a reação, havendo sempre, porem, entre as duas, uma equivalência.
A ação representada pelo aumento de
intensidade do calor que atua sobre um corpo pode provocar como reação a dilatação
do corpo, a sua mudança de estado físico ou ainda a realização de um fenômeno químico, o mesmo verifica-se com a luz ou a
eletricidade, que podem, conforme a intensidade provocar, como reação, simples fenômenos
físicos ou transformações de natureza química. Em qualquer caso observam-se
sempre a constância determinada pela lei que e a equivalência entre a ação e a
reação.
Para a verificação da equivalência e
preciso medir-se as intensidades da ação produzida e da reação provocada,
devendo sempre, em cada caso, medir-se essas intensidades de acordo com a
natureza do conflito examinado.
II – APLICAÇÕES DA DÉCIMA
SEGUNDA LEI
- A lei de Huyghens e Newton. Constitui o exemplo que melhor
caracteriza a aplicação da décima segunda lei da Filosofia Primeira à Matemática,
a própria lei mecânica de Huyghens e de Newton, que representa a origem histórica
desta lei universal.
Como fizemos para as duas leis
precedentes deste grupo vamos demonstrar a lei da ação e da reação por meio da
analise da sua aplicação a uma serie de exemplos característicos em cada um dos
graus enciclopédicos.
Na matemática já esta bem evidenciada a
aplicação da lei de Huyghens e Newton uma vez que mostramos ter sido no domínio
mecânico que pode ser em primeiro lugar apreciada e sistematizada a noção
expressa pela lei, a da equivalência entre a ação e reação.
Inúmeros outros exemplos poderiam
formular não só na mecânica, mas também no cálculo da geometria.
No domínio mais simples do cálculo aritmético
podemos verificar a lei da ação e da reação quando, por exemplo, utilizamos a escala numeral como
base para as operações fundamentais. Assim quando somamos dois números, a ação
é representada pelo deslocar na escala natural, a partir do primeiro, tantas
unidades quantas as que contem o segundo dos números dados; a reação corresponde
ao aumento de valor, que vai constituir a soma.
A simplicidade do domínio matemático
tornara evidente a ação e a reação em qualquer que seja o exemplo figurado.
Podemos, portanto, passar desde logo a astronomia.
- A décima segunda lei na Astronomia. Em astronomia a lei, em sua forma
especial mecânica, foi diretamente
aplicada por' Newton, que mostrou a gravitação
como constituída por ações e reações mutuas e equivalentes.
Todo o sistema planetário mantém seus
estados estático e dinâmico devido às ações e reações mutuas que exercem uns sobre
os outros os corpos celestes.
A lei da gravitação universal,
descoberta por Newton, estabelece a proporcionalidade com que os astros
gravitam uns para os outros, isto é, as ações que exercem entre si e as reações
conseqüentes. Tal proporcionalidade, referida as massas dos corpos celestes,
aplica-se de um modo geral a todos os corpos, de forma que a gravidade, em Física,
enquadra-se também na lei universal da ação e da reação.
Foi, por conseqüência, a aplicação astronômica
dessa lei uma das primeiras conhecidas, antes mesmo de sua generalização, e
que a entendeu ate o domínio da Física terrestre por meio da aplicação à Barologia.
- Nos fenômenos meteorológicos. Em todo o domínio da Física, se
analisarmos os fenômenos correspondentes, vêem desde logo bem caracterizados
a ação e a reação e ainda a equivalência entre ambas.
Dentre as ações exercidas pelos fenômenos
físicos apreciaremos em primeiro lugar as que são devidas ao calor.
Começaremos pelo estudo dos efeitos
naturais do calor sabre a atmosfera. A ação nesse caso e revelada pelo aquecimento
desigual das camadas atmosféricas, dando lugar a reações que se manifestam pelos
deslocamentos de massas de ar e pela formação das condensações de vapor de
água.
E o calor proveniente do Sol, que
aquecendo desigualmente a atmosfera, provoca, devido a diferença de densidade
da massa gasosa, deslocamentos de ar, formando-se assim as correntes, que dão lugar
aos ventos. As irregularidades na superfície da Terra, o aquecimento desigual
das camadas gasosas e a variação com a altitude e a latitude, a distribuição também
desigual das massas liquidas, concorrem com uma serie de outros fatores para a
grande irregularidade que apresentam os fenômenos meteorológicos onde, entretanto,
podemos sempre observar a equivalência entre a ação e a reação. E' a ação, como
vimos representada pelo aquecimento da atmosfera e a reação pela conseqüente
formação das chuvas, neve, correntes de vento, etc.
- As reações do calor. A ação do calor, para exame desta
lei, não é verificável somente sabre a atmosfera. Podemos analisar as ações
que exerce o calor sabre determinado corpo, provocando variações na sua
estrutura física ou química.
A intensidade da ação provoca diversas
reações e a intensidade da elevação da temperatura de um corpo e muito pequena
podemos observar apenas a propagação do calor através da massa do corpo, sem
que nenhuma alteração sensível seja observada. Aumentando gradualmente a
quantidade de calor que age sabre o corpo, a reação verificada manifestar-se-á primeiro lugar pela dilatação do corpo
aquecido, que aumenta de volume, depois pela passagem de estado físico,
primeiro do sólido para o liquido, se o corpo estava naquele estado, depois do
liquido para o gasoso.
A intensidade muito grande de calor
sabre determinados corpos pode provocar uma reação de natureza diversa das que
acabamos de examinar; a reação devendo ser equivalente a ação, pode manifestar-se
pela alteração na composição química do corpo.
A propagação do calor, a dilatação, as
passagens ou mudanças de estado físico e
a decomposição química correspondem, por conseguinte a reações diversas, que se
manifestam como equivalentes de ações mais ou menos intensas do calor sabre um
determinado corpo.
- As ações mecânicas e as reações que
provocam. As ações
mecânicas constituem também exemplos característicos de aplicação no domínio
da Física da lei da ação e da reação,
por isso, que podem provocar, como reação, a produção de calor, do som, ou
da eletricidade.
São muito vastas as aplicações na indústria
moderna, dos fenômenos físicos obtidos por meio de atividades mecânicas. O
calor, a luz, e o som, a eletricidade, são utilizados sob múltiplas e variadíssimas
formas depois de produzidos em grande número de casos, como resultado de ação mecânica.
Há sempre a verificação completa da lei da ação e da reação, onde o trabalho mecânico
realizado constitui a primeira parte - a ação - e fenômeno físico produzido a segunda - a reação.
E', por exemplo, sempre por meio de uma
ação mecânica, quer proveniente de movimento de maquina ou de queda d´água,
turbina hidráulica, etc. que se produz a eletricidade. A ação mecânica põe em
movimento o dínamo e este por sua vez produz a corrente elétrica. Essa corrente
representa a reação provocada pele movimento mecânico e é sempre equivalente a
esse movimento ou, diremos melhor, a quantidade de movimento utilizada na produção
da eletricidade. A corrente elétrica assim produzida vai por sua vez agir de inúmeros
modos, provocando as reações que representam tantos outros fenômenos físicos ou
mecânicos. A luz elétrica, por exemplo, e a reação correspondente à ação da
corrente elétrica; é equivalente sempre a corrente utilizada.
- As reações químicas. Na Química as ações são
geralmente representadas pelos fenômenos físicos, principalmente a luz, o
calor e a eletricidade, sendo as reações de composição ou de decomposição
as que representam propriamente os fenômenos químicos.
Toda a reação química, de síntese ou de
análise, isto é, de composição ou de decomposição, é provocada por urna
alteração no meio devido à maior intensidade em determinado fenômeno físico.
Esse aumento de intensidade, que provoca a reação química, e o que constitui a
ação. São geralmente o calor, a luz ou a eletricidade, os principais elementos
causadores das reações químicas.
O movimento de análise ou de síntese em
química é, por esse motivo, chamado de reação, porque constitui a reação
provocada pelo alimento de intensidade do fenômeno físico utilizado, ou ainda
por outro qualquer modo de formação de um meio físico favorável.
O fenômeno físico representa, pois nesse
caso a ação e o fenômeno químico a reação equivalente.
- Ações químicas. Pode, entretanto, a própria ação,
como a reação, ser puramente química, ou ainda dar-se o caso de uma ação
direta de dois corpos em condições normais produzem a sua combinação e a
reação ser representada, por exemplo, pela produção de calor.
Há corpos que se combinam diretamente,
em condições normais, sem exigir qualquer aumento de intensidade dos fenômenos
físicos, sendo necessária apenas à aproximação entre eles para que se verifique
espontaneamente a reação. Nesse caso o fenômeno químico não constitui
propriamente unia reação, mas sim uma ação. Pode em tais circunstâncias o
fenômeno químico provocar o desenvolvimento de fenômeno físico, que
representará então a reação. Corpos existem, por exemplo, que se combinam
normalmente produzindo calor ou luz, ou ainda a baixa de temperatura pelo maior
consumo de calor; qualquer dessas alterações físicas representará a reação e
será mais ou menos intensa segundo a maior ou menor intensidade com que se
produza a ação química.
De um modo geral em toda a reação
química quer seja simples ou com posta, isto é, quer se verifique uma ou mais
vezes o duplo movimento de ação e reação, observa-se em qualquer caso a lei
universal em toda a sua plenitude, sendo sempre equivalentes à ação e a reação.
- A lei da ação e da reação em Biologia. Inúmeros são também os exemplos frisantes de aplicação
da lei da ação e da reação que nos pode fornecer a Biologia. Dentre esses
exemplos devemos em primeiro lugar proceder ao exame do que é fornecido
pela própria existência vital.
A vida resulta, como temos visto, do
duplo movimento de assimilação de desassimilação. Esse duplo movimento é
realizado com a completa observância da lei que estamos estudando, sendo,
entretanto, mais difícil de que nos domínios da cosmologia o apreciar a
perfeita equivalência sempre existente entre a ação e a reação. Nas relações
entre o mundo e o ser vivo observamos sempre a ação do primeiro que mantém e
estimula o estado vital e a reação do segundo que elimina todos os elementos nocivos
ou já desnecessários. Do equilíbrio entre as duas funções, de assimilação e de
desassimilação, resulta a vida, e o organismo passa pelas fases normais de
crescimento, estabilidade e declínio devido ás diferenças de intensidade com
que se apresentam os dois movimentos. Essa desigualdade, entretanto, não altera
a equivalência entre a ação e a reação, por isso que não devemos confundir sua
intensidade com as dos dois citados movimentos. E, assim que a ação de
assimilação deve ter intensidade decrescente à medida que o organismo
envelhece, devido ao aumento de dificuldade na execução de todas as funções
vitais.
- Ações mecânicas e físicas sobre
seres vivos. O ser
vivo, sujeito sempre ao mundo exterior que lhe serve de alimento, de
estimulante e de regulador, está continuamente sob as ações mecânicas,
físicas, químicas e biológicas desse mundo. São os elementos exteriores as
fontes permanentes das ações mais ou menos intensas, variadíssimas e em
grande número, que a todo o momento se fazem sentir sobre o ser vivo.
Essa ação permanente do mundo sobre o
organismo vivo provoca, por parte deste, reações equivalentes que perduram
durante toda a existência vital.
É exemplo característico a ação de um
choque mecânico ou a passagem de uma corrente elétrica sobre uma terminação
nervosa animal, produzindo geralmente, como reação imediata, um movimento.
- As ações perturbadoras. Não é somente a ação normal do
mundo sobre o organismo vivo que está sujeita à lei da equivalência entre
a ação e a reação.
Também as manifestações patológicas,
quando devidas a ações de intensidade dos fenômenos biológicos fora dos limites
normais, provocam reações equivalentes.
Uma ação perturbadora de uma função ou
da estrutura do tecido de um órgão provoca a reação representada pela alteração
de intensidade de determinada função, podendo chegar a ponto de causar o
rompimento do equilíbrio, da harmonia funcional entre todos os órgãos.
A simples ingestão de alimentos em
quantidade ou qualidade fora das devidas proporções, pode causar perturbação
funcional do organismo vivo. A ação exagerada de alimentação provoca uma reação
equivalente que perturba as funções dos órgãos diretamente atingidos. Essa
perturbação por sua vez age sobre outros órgãos aumentando ou diminuindo
exageradamente o estado funcional dos mesmos e podendo dessa forma chegar a
produzir o desequilíbrio geral da existência orgânica. De tal desequilíbrio
resulta o estado de moléstia que pode, quando a perturbação é muito intensa,
acarretar a extinção da vida.
Há, era geral, no caso patológico, leve
ou grave, um conjunto de ações e reações ligadas entre si e interdependentes,
formando um sistema de maior ou menor complexidade, porém guardando sempre, cru
cada elemento, a equivalência entre a ação e a reação.
- A ação do meio exterior. Os organismos vivos, animais ou
vegetais, sofrem a ação do meio exterior e reagem contra essa ação
modificando o meio ou adaptando-se a ele, A ação do meio sobre os seres
vivos que, como vimos, é permanente e intensa, pode provocar reações de
duas espécies, donde resulta a modificação do meio ou a do próprio ser que
se adapta às circunstâncias exteriores. Inúmeros são os exemplos de
modificações que se processam na própria estrutura anatômica do ser vivo,
que dessa forma reage às ações do exterior e tende para a harmonia entre o
organismo e o meio.
- A ação social. Na Sociologia, estática ou
dinâmica, também são em grande numero os exemplos que podemos utilizar
para a demonstração desta lei.
A ação da sociedade sobre a família, por
exemplo, quando anormalmente concorre para diminuir o poder material do homem
ou o espiritual da mulher, desenvolve como reação imediata o enfraquecimento
dos laços domésticos.
Se considerarmos, a influência da
coletividade geral sobre o elemento fundamental da sociedade, que é a família,
notamos que em época de transição anárquica, como o da atualidade, tal
influência constitui geralmente ação perturbadora da existência doméstica. A
sociedade mal organizada de nossos dias não permite, na maioria dos casos, que
o homem possa prover às necessidades materiais de sua família; assim como,
exigindo por parte da mulher trabalhos de ordena material, impede que ela
exerça normalmente sua função espiritual. Há, portanto, uma dupla ação
perturbadora, por parte da sociedade sobre a família, impedindo o livre
exercício dos poderes material e espiritual no elemento básico da existência
coletiva. Tal ação provoca uma reação equivalente representada pela diminuição
dos laços de apego, veneração e bondade, que se devem normalmente desenvolver
na família como conseqüência de sua própria formação.
Assim como por esse exemplo percebemos
claramente a aplicação da lei da ação e da reação ao domínio da estática
social, assim também muitos outros fenômenos na própria existência doméstica:
ou na estrutura material da sociedade ou ainda na formação da linguagem, etc.,
poderiam servir para o exame da aplicação da lei.
Ações perturbadoras na estática social.
Uma análise na existência política das nações modernas mostraria como a lei da
ação e da reação explica perfeitamente todas as perturbações geralmente
provocadas pelos próprios governos em suas ações empíricas, realizadas sem
nenhuma previsão, sem atingir aos verdadeiros interesses da coletividade.
Os governantes, muitas vezes dominados
pelo orgulho supracitado como conseqüência do próprio exercício do poder, sem
as luzes científicas necessárias para a ação sistemática, tendem logo, não
somente a invadir atribuições espirituais como também a desrespeitar as maiores
conquistas sociais realizadas pela espécie humana, principalmente em relação ás
liberdades públicas.
Ação de tal ordem é a causa de graves
perturbações.
Examinemos como exemplo, a invasão, pelo
governo temporal, de atribuições de natureza espiritual. A ordem social, para
manter seu equilíbrio normal e a harmonia necessária entre todos os seus
órgãos, exige completa separação entre o espiritual e o temporal.
Ao governo temporal cabem unicamente
atribuições de ordem material, a fim de que sejam, nessa esfera de ação,
atendidas todas as necessidades da coletividade.
“... a liberdade espiritual exige duas
sortes de medidas urnas fundamentais que consistem na plena liberdade de
comunicações escritas e verbais, outras, complementares constituídas pela
supressão do tríplice orçamento, teológico, metafísico e científico; bem como
pela abolição da pretendida propriedade literária”. João Pernetta, Os Dais
Apóstolos, Curitiba, 1929, vol. III, pag. 16.
No meio da anarquia atual, entretanto, a
ação dos governos materiais são geralmente conduzidas no sentido de
desrespeitar essa separação imprescindível â harmonia social. De acordo com a
lei de Newton a ação opressora de imposição de princípios, retrógrados ou
anárquicos, de supressão da liberdade da propaganda espiritual de quaisquer
doutrinas, provoca uma reação equivalente, que se manifesta em geral pelo
descrédito do tal governo, pelo enfraquecimento de sua autoridade, pela perda
da forca que deveria conservar e desenvolver. Agindo empiricamente, sem
compreender as verdadeiras causas do seu descrédito, procuram os governantes,
por meio de medidas violentas, aumentando a opressão e a tirania, compensar a
perda de poder. Há, entretanto, em tal atitude apenas um acréscimo na ação
perturbada e conseqüentemente nas reações que podem acarretar muitas vezes a
destruição do próprio governo, órgão social que está agindo fora das
verdadeiras normas que exige a harmonia coletiva.
São, pois, não somente os interesses
elevados da coletividade, mas também os próprios Interesses de conservação de
um governo, que devem concorrer para que este procure manter-se dentro dos
limites prescritos pelas leis científicas, desde meados do século XIX
estabelecidas por Augusto Comte, que fundou a Sociologia e a Moral positivas.
Reduzida a variação dos fenômenos sociológicos aos limites normais, é mantida a
harmonia social; transpostos aqueles limites, as ações tornam-se perturbadoras
e provocam reações também intensas, que podem concorrer para a modificação da
ordem social.
- A ação e a reação na Moral. Na Moral, à principal ação exercida
pelo homem, aquela que se realiza pela educação, corresponde como reação o
aperfeiçoamento da natureza humana, no seu tríplice aspecto, prático,
intelectual e afetivo.
E’ a educação uma ação modificadora que
se exerce sobre nossa natureza moral,
intelectual e prática —; como toda a ação provoca urna reação equivalente. Tal
reação, que se manifesta por modificações mais ou menos profundas da natureza
humana, deve ser convenientemente prevista em seus resultados, o que constitui
a máxima dificuldade no trabalho humano.
As artes formam como vimos o domínio da
atividade e têm por objetivo a modificação do mundo e do homem de acordo com as
necessidades humanas. Apresentam correspondência com os nossos conhecimentos
abstratos, e como estas são classificadas nas sete categorias, da matemática à
moral. Quanto mais subimos à escala tanto mais difíceis e complexos são os
fenômenos correspondentes e. sendo cada vez mais modificáveis, torna-se também
cada vez mais difícil à modificação de acordo com os objetivos visados.
Modificar a alma humana, aperfeiçoar o coração diminuindo o egoísmo,
desenvolvendo o altruísmo, estabelecendo uma conveniente harmonia nas funções
afetivas, melhorar a inteligência tornando-a mais sintética e mais penetrante,
desenvolver o caráter, constituem os trabalhos mais difíceis e complicados,
exigindo um grande preparo moral e intelectual para poderem ser realizados
sistematicamente e com resultados favoráveis.
Todo esse trabalho de educação, como em
geral todos os de modificação do mundo e do homem, baseia-se fundamentalmente
na lei da ação e da reação.
Os meios de que dispomos para a educação
dão lugar à ação; os resultados a que devemos atingir, e que são devidamente
previstos, constituem a reação. Prever exatamente em cada caso concreto a
reação que produz determinada ação e ainda qual a ação quem determinadas
circunstâncias deve ser empregada para atingir-se a um resultado que se deseja,
que são os problemas de maior dificuldade que se apresentam à inteligência
humana para resolver.
- Ações e reações cerebrais - O trabalho cerebral é sempre
sustentado pela existência corporal; há entre as funções cerebrais e as da
vida vegetativa estreita interdependência; as ações cerebrais provocam
reações corporais e reciprocamente.
Inúmeras são as ações corporais que se
refletem sobre as funções cerebrais. E’ permanente e intensa a influência do
corpo sobre o cérebro. concorrendo para modificar o funcionamento deste.
A constituição corporal, o estado de
equilíbrio das funções vegetativas a idade do individuo, ele são elementos que
contribuem para alterar o estado cerebral — afetivo, intelectual ou ativo.
Da mesma forma o cérebro age sobre o
corpo, dando lugar a que este modifique suas funções. A reciprocidade de
influências entre o cérebro e o corpo obedece à lei da ação e da reação.
Dificilmente podemos, entretanto, apreciar separadamente uma dessas ações e a
conseqüente reação, devido à complexidade do assunto e às múltiplas ações e
reações permanentemente realizadas.
As ações e reações mútuas estão sendo
continuamente verificadas não só entre o cérebro e o corpo, mas também nas
funções cerebrais entre si, pois todo o trabalho do cérebro resulta do conjunto
de funções simples que agem e reagem umas sobre as outras.
Dessa interdependência das funções
cerebrais e corporais e das funções cerebrais entre si, resulta a possibilidade
da previsão das modificações em nossa natureza. Toda a moral prática está
baseada, conseqüentemente, no conhecimento da moral teórica, isto é, das leis
das funções cerebrais e das influências do meio exterior e do corpo, a fina de
que possamos dirigir e graduar as ações modificadoras pela educação, como vimos
anteriormente.
Os melhores preceitos de moral prática
baseiam-se sistemática ou mesmo empiricamente no conhecimento da equivalência
entre a ação e a reação. É assim, por exemplo, o verso da Imitação: ‘Frena
gulam et omnen carnis inclinationem facilus frenabís’. (Refreia a gula com
certeza mais facilmente refrearás qualquer outra tendência egoísta).[T. de Kempis, A Imitação de Cristo, ed.
Garnier, Rio de janeiro, 1910, liv. I, Cap. XIX, pág. 62.] Tal preceito estabelece uma ação
determinada, o refrear da gula, para que a reação equivalente se verifique, a
diminuição de intensidade de todas as funções egoístas do coração humano.
- Ações perturbadoras entre o físico
e o moral. Não é só
no estado normal do cérebro que observamos as influências recíprocas entre
este e o corpo, mas também nos estados patológicos. A loucura e a idiotia,
por exemplo, estados de desequilíbrio mental que se caracterizam por
excesso ou falta de intensidade nas imagens trazem perturbações nas
relações entre o corpo e o cérebro, mas não impedem que essas relações
continuem a verificar-se, embora com intensidade também fora dos limites
normais de variação.
Da mesma forma as perturbações do corpo
influem sobre as relações desta com o cérebro, aumentando ou diminuindo a
intensidade dessas relações e conseqüentemente das imagens cerebrais, Há
sempre, entretanto, quer no primeiro caso como na segunda lei universal.
- A virtude. A virtude é uma ação diretamente
destinada a provocar uma reação em favor de outrem.
Como a definiu Duclus ( ), é
a virtude um esforço que o indivíduo exerce sobre si mesmo em favor dos outros.
Está a moral prática fundada
especialmente no exercício da virtude, que aperfeiçoa o coração humano, por
meio de atos de altruísmo, isto é, de atos inspirados pelos mais nobres
sentimentos sociais, aqueles que levam a viver para outrem.
Quer o esforço realizado venha
beneficiar diretamente a determinado individuo ou venha a diluir-se de modo
geral, para que possa ser aproveitado, com maior ou menor intensidade e
precisão por uma sociedade mais ou menos extensa, em qualquer desses casos há
sempre uma ação representada pelo esforço individual visando o benefício de
outrem, e uma reação equivalente representada por esse próprio beneficio.
Vimos dessa forma, por uma série de
exemplos colhidos na matemática, na astronomia, na física, na química, na
biologia, na sociologia e na moral, teórica e prática, a extensão universal da
lei da ação e da reação, que constitui a décima segunda lei de Filosofia
Primeira.
III. APRECIAÇÃO EM CONJUNTO DAS TRÊS
PRIMEIRAS LEIS DO TERCEIRO GRUPO
- Exemplos de aplicação das três leis. A fim de apreciar em conjunto as
três leis, da persistência, da coexistência e da ação e reação,
examinaremos um exemplo do domínio inorgânico e um de cada uma das três
ciências do homem — a Biologia, a Sociologia e a Moral.
As três leis da persistência, da
coexistência e da ação e reação, que constituem o primeiro sub-grupo do
terceiro grupo da Filosofia Primeira suo, como vimos, as que regulam a
existência objetiva dos elementos necessários a todas as nossas pesquisas
abstratas.
Em qualquer elaboração científica os
dois fatores — objetivos e subjetivo — são necessários e devem estar
convenientemente combinados para que seja normal o trabalho realizado.
A ciência é relativa. Para as
construções abstratas concorre como fator essencial o cérebro humano, que
elabora as teorias, de acordo com nossas necessidades de conhecer, para
modificar o mundo e o homem, O segundo fator é constituído pelos materiais
objetivos, isto é, os elementos que veêm do exterior e que alimentam, estimulam
e regulam todo o trabalho interior.
Esses materiais objetivos estão sujeitos
as três leis que acabamos de estudar examinando a aplicação de cada urna às
diversas categorias enciclopédicas.
Para concluir o estudo desse sub-grupo
mais objetivo da Filosofia Primeira vamos examinar sinteticamente sua
aplicação em conjunto a alguns exemplos característicos.
- No domínio inorgânico. No domínio inorgânico o estudo da
gravitação universal evidencia bem a importância das três leis.
A lei da gravitação universal explica, de modo completo e geral, o
espetáculo que nos apresenta não somente o sistema solar mas também o conjunto
de corpos celestes que, relativamente às massas e às distâncias, mantém o equilíbrio
dos sistemas e os movimentos dos astros, que se verificam com a máxima
regularidade.
Toda a existência astronômica, tanto
estática quanto dinâmica, isto é, tanto o equilíbrio dos sistemas como o
movimento dos corpos celestes obedecem perfeitamente ás três leis que estamos
apreciando.
A primeira lei é verificada pela
tendência, que os astros apresentam, de se manterem em equilíbrio no sistema,
de realizarem os movimentos próprios, observados há muitos milênios sempre com
a mesma regularidade.
A segunda lei explica a coexistência dos
múltiplos movimentos que um mesmo astro observado apresenta, cada um desses movimentos
realizando-se como se os outros cessassem.
A terceira lei adquire ao domínio
astronômico uma importância especial, por isso que vai representar a própria
lei da gravitação universal.
No
domínio do homem. Nas
três partes da Moral exemplificaremos, com os estudos da vida, do organismo social
e da unidade religiosa, respectivamente a Biologia, a Sociologia e a Moral.
No estudo da concepção geral da vida, o
duplo movimento de assimilação e desassimilação pelo organismo, podemos
apreciar claramente a verificação das três leis objetivas da Filosofia
Primeira. A lei da persistência verifica-se pela tendência de todo o organismo
vivo a continuar indefinidamente a realização do duplo movimento, resistindo
às perturbações exteriores, das quais resulta finalmente a cessação da vida. A
segunda lei mostra a coexistência das múltiplas e variadas funções orgânicas
que apresenta um ser vivo, todas elas harmônicas e coexistentes, porém
independentes. A terceira lei finalmente, é observada nas ações que exercem uns
sobre outros; os diversos elementos do
organismo, provocando reações que concorrem para a manutenção da existência
biológica.
O organismo social constitui em
Sociologia um exemplo frisante para apreciarmos a aplicação das três leis que
estamos estudando - A primeira lei revela-se pela persistência dos diversos
elementos estáticos da Sociedade — propriedade, família, linguagem e governo —
que tendem a persistir espontaneamente resistindo às perturbações exteriores; a
segunda lei verifica-se uma coexistência e independência com que se apresentam
esses mesmos elementos sociais; e finalmente a terceira lei explica as ações e
reações mútuas das diversas instituições da sociedade.
Para exemplificar a aplicação das leis
objetivas ao domínio da moral, utilizaremos o conceito de unidade religiosa,
isto é, a convergência pessoal e coletiva de sentimento, pensamentos e atos
para um destino comum. Tal conceito será neste exemplo utilizada para
qualquer que seja a forma religiosa e, portanto na sua apresentação estática,
independente das variações no tempo. Podemos com nitidez observar aí as três
leis universais deste grupo estudado, pois toda a forma religiosa tende espontaneamente
a persistir, resistindo às perturbações exteriores, nela coexistem os elementos
necessários à unidade individual e à coletiva; assim como os que concorrem para
as unidades afetiva, intelectual e prática, e, finalmente, do concurso de
sentimentos, pensamentos e atos para a formação do espírito(inteligência) religioso, do equilíbrio da unidade, que resultam
ações e reações equivalentes.